Um ato ecumênico homenageou os seis educadores(as) e o motorista mortos na tragédia ocorrido na semana passada na BR-376, quando se dirigiam para a Conferência Estadual de Educação, em Curitiba.
A solenidade foi transmitida on-line nas páginas da APP no Facebook e no Youtube. “Nos reunimos para pedir fé, força, energia e coragem para os familiares e para nós, amigos(as) daqueles que partiram, para que não nos falte fé e esperança para construir um mundo melhor, para que possamos ir em frente”, disse a secretária de Saúde e Previdência da APP, Tereza Lemos, que coordenou a atividade.
Tereza considera a perda desses(as) companheiros(as) um dos momentos mais difíceis nos 75 anos de história do Sindicato, mas a hora exige persistência . “Sabemos, como nossos(as) companheiros(as) que partiram, que a nossa unidade e nossa atuação são fundamentais para garantirmos uma educação pública de qualidade para todos(as) e para construirmos uma sociedade justa e democrática”, justificou.
A presidenta da APP, Walkíria Mazeto, clamou por proteção e força para os educadores do Paraná e os familiares das vítimas do acidente da 376.
Estamos numa batalha para romper com o que está posto, defender uma sociedade diferente, uma escola diferente, uma condição de vida melhor para as pessoas. Não é fácil. Alguns vão tombar antes de a gente terminar, como esses nossos que estavam fazendo esta luta e tombaram”, afirmou. “Que possamos ter a proteção, a força e a sabedoria necessárias para continuar fazendo essa batalha, pois temos certeza que estamos do lado certo”, disse.
O presidente da CUT Paraná, Márcio Kieller, também participou do ato religioso. “A gente veio prestar essa solidariedade, como classe trabalhadora, pois a perda desses valorosos trabalhadores da educação deixa uma lacuna também para a classe trabalhadora, porque a luta da educação é uma luta conjunta dos trabalhadores”, disse.
“Foi com muita consternação que soubemos do ocorrido. Lamentamos, nos resignamos também, junto com todos(as) aqui, nesses pensamentos de fé e solidariedade às famílias e de estar juntos para que a gente possa se recompor e continuara a lutar em nome desses que partiram”, afirmou Kieller.
A cerimônia teve representantes das religiões de matriz africana e muçulmana, da Igreja Anglicana e da Igreja Católica e da Igreja Evangélica.
Pai Caetano, sacerdote das religiões de matriz africana, ressaltou o conceito de mártir para ajudar a compreender e aceitar as perdas dos educadores(as) homenageados(as). “Eles são um exemplo de que vale a apena defender até o último suspiro o que a gente acredita. Ter fé para sair de nossas casas para lutar por todos, pelo amanhã”, observou.
“Apesar do nosso choro e dessa marca que vai ficar nas conferências estaduais de educação, nossa resposta tem que ser ‘sua voz está aqui, o que você representa está aqui’. Toda vez que eu acordar e tiver preguiça de ir numa reunião, de lutar por uma causa, eu vou lembrar da Doquinha, eu vou lembrar da Sílvia, do Cameloti, da Andréia, da Joana D’arc, vou lembrar de cada um que sai de casa para que a gente tenha uma luta”, afirmou o religioso.
O culto ecumênico foi uma celebração da diversidade e da esperança. Um momento especial foi o pedido de graças a professora Maria das Graças de Oliveira, que permanece internada no Hospital Regional Universitário de Ponta Grossa.
Representando a Igreja Católica, Frei Ildo, destacou a vocação dos(as) professores(as) é extraordinária. “Não é uma dedicação qualquer. É a vocação daqueles que se dedicam a ensinar e a fazer crescer os(as) outros(as). É uma pena que em nosso país sejam tão desvalorizados”, disse. Ele citou um trecho do profeta Isaías sobre a importância de manter a esperança.
O reverendo Glauber Santos falou sobre como a comunidade anglicana trata as despedidas de pessoas amadas. “Quando nos reunimos para a memória de alguém que partiu, nos referimos a esse momento como “páscoa”, porque repete sob o olhar da esperança aquilo que Jesus viveu. A morte em cristo Jesus não é um fim, é um começo de uma grande e eterna aventura”, ensinou.
O sheik Hussein lembrou que Maomé foi designado como professor. “Isso significa que todos os professores estão caminhando no caminho dos profetas. Eu conheço o papel que os professores têm no país , eles é que vão construir o país. A independência e a dignidade de todos depende dos professores”, disse.
O pastor Mike Vieira citou Eclesiastes para ressaltar que há um tempo para cada coisa sob o céu. “Nós estamos aqui nessa tarde pelo amor. A educação é o amor e estamos aqui porque amamos ensinar, amamos a educação. Esses nossos queridos amigos estavam numa missão e existe muito risco em toda missão”, afirmou. “Cabe a nós continuar com o fogo que arde dentro da gente pela educação, continuar a lutar pelos nossos direitos e pelos direitos dos nossos filhos”, recomendou.
Os(as) educadores falecidos(as), todos(as) integrantes do Núcleo Sindical de Cambará, são Andreia Aparecida Lemes Santana, Aparecida Lucia da Cunha, Ederson Camiloti, Joana Darc Franco Bertoni, Lucilene Prates Tomaz Saidler e Sílvia Regina Gomes. O motorista Miguel Henrique de Souza Melo também faleceu.
Outros três educadores(as) estavam na van acidentada. Juliano César Teixeira e a esposa dele, Fernanda Soares Nogueira Teixeira, já tiveram alta hospitalar. A professora Maria das Graças de Oliveira permanece internada no Hospital Regional Universitário de Ponta Grossa.