Ataques neonazistas nas escolas aumentaram 640% em um ano no Brasil APP-Sindicato

Ataques neonazistas nas escolas aumentaram 640% em um ano no Brasil

Observatório também mostra que o Paraná é o terceiro estado brasileiro com mais células nazistas, com 197 grupos

Professora faz gesto nazista durante aula em escola privada na cidade de Ponta Grossa - Foto: reprodução / redes socias

Um relatório divulgado pelo Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil mostra que os eventos de violência neonazista nas escolas brasileiras registraram um salto de 640% em 2022, na comparação com o ano anterior.  O documento também constata um aumento explosivo do número de grupos neonazistas no país e que o Paraná ocupa a terceira posição nesse ranking, entre os estados da federação.

De acordo com o levantamento, os ataques neonazistas no ambiente escolar evoluíram de 4 ocorrências em 2019, para 1 em 2020, 5 em 2021 e 37 em 2022. Além de neonazismo e antissemitismo, os casos de violência contra as escolas registrados incluem, racismo, homofobia, negacionismo, trote, assédio sexual e vingança, violência política e de assédio político em ambiente escolar.

Os ataques contra as instituições de ensino tendo essas motivações subiram de 18 em 2019 para 144 em 2022. A descrição desses casos mostrou que mesmo quando os criminosos agem “por conta própria”, é possível identificar influência de grupos de ódio contra indígenas, negros, homoafetivos e mulheres.

As investigações policiais desvendaram grupos explicitamente neonazistas, armados, que usam redes sociais abertas e fóruns da deep web para atrair crianças e adolescentes a quem oferecem treinamento paramilitar, visando atacar pessoas, eventos e instituições.

“Houve um número sem precedentes de ataques de caráter neonazista neste período em todo o país. Um percentual importante desses eventos se deu em ambiente escolar. Mais importante, os eventos com violência física, alguns dos quais resultaram em mortos e/ou feridos, ocorreram em instituições de ensino”, registra o Relatório.

A educação tem importância estratégica na neutralização dessas células, aponta o relatório. “Essa opção justifica-se pelo fato de que estes eventos já não podem ser chamados de sinais de alerta, em função da quantidade de ocorrências e da violência dos mesmos – em vários deles houve feridos e mortos”, justifica.

Ranking

O Paraná é o terceiro estado brasileiro com mais células nazistas, com 197 grupos. Curitiba ocupa o mesmo terceiro lugar no ranking das cidades brasileiras, com 50 grupos. No Brasil, o crescimento passou de 72 em 2015, para 1.115 em 2022. Entre outubro de 2021 e novembro de 2022 esses grupos mais que duplicaram. No mesmo período, o número de cidades com células neonazis passou de 249 para 298.

“O fenômeno não é novo no Brasil, que sediou a maior filial do partido nazista fora da Alemanha, com 3.000 membros, na primeira metade do século XX. O que chama a atenção é que esse ideário, que nunca deixou de existir no país, multiplicou-se a partir de 2019, com a eleição de Jair Bolsonaro, um representante da extrema-direita política e cujo discurso de ódio como que legitimou o avanço desses grupos”, analisa o Relatório.

O documento aponta em sua conclusão que é fundamental manter o monitoramento destes grupos. “A extrema direita saiu do poder na esfera federal, mas permanece ativa, estimulando e organizando novos atentados, que continuaram a ocorrer nos primeiros meses de 2023”, registra.

No Brasil, o nazismo é punido com base na Lei de Crimes Raciais, com penas que podem chegar a cinco anos de prisão. Há projetos tramitando no Senado para elevar a pena para oito anos e para tipificar criminalmente a apologia ao nazismo, a prática de saudações nazistas e a negação, justificação ou aprovação do Holocausto.

Abrangência

A pesquisa do Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil constatou que há movimentos neonazistas em 22 estados e no Distrito Federal. A maior concentração é em Santa Catarina, com 320 células. São Paulo está em segundo lugar entre os estados, com 268 células. O terceiro nesse ranking é o Paraná.

Entre as cidades brasileiras, São Paulo é a que tem mais células neonazis (96). Blumenau (SC) vem em seguida, com 63 células. Curitiba é a terceira nesse ranking.

A dificuldade de combater esses grupos se deve em parte ao fato de terem o apoio de pessoas poderosas. O relatório expõe o caso de uma manifestação em São Miguel do Oeste (SC), quando bolsonaristas protestaram contra o resultado das eleições presidenciais de 2022 e fizeram o gesto de saudação nazista.

O caso começou a ser investigado pelo Ministério Público catarinense, que pretendia responsabilizar os envolvidos. Em seguida o MP afirmou que não viu apologia ao nazismo. Segundo nota divulgada pela instituição, a investigação concluiu que “os manifestantes atenderam ao chamamento do orador do protesto, que pediu aos participantes que levantassem a mão para emanar energias ao movimento”.

Eleições

O Relatório mostra que os ataques contra as escolas se concentraram no ano eleitoral de 2022, que teve 74% (125 de 166) do total de casos no período a partir de 2019. No geral, os eventos neonazistas em 2022 representaram quase metade dos casos do período (114 de 240).

O número de células neonazistas no Brasil pulou de 530 em outubro de 2021 para 1.117 em novembro de 2022, além de ampliarem sua atuação de 249 para 298 cidades.

Durante o segundo semestre do ano passado, período eleitoral e pós resultados das urnas, os ataques se disseminaram pelo país, sendo o mês de novembro o de maior incidência, com 26 casos. O mesmo se verifica em relação aos ataques em ambiente escolar, que somaram 22 casos.

“O ideário de extrema-direita, de caráter fascista, inspirado pelo integralismo dos anos 1930 liderado pelo deputado Plínio Salgado e cujo lema (“Deus, pátria e família”) é o mesmo utilizado por Bolsonaro e se mantém vivo e reorganizado no Brasil”, aponta o Relatório.

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