Um estudo feito pelo Instituto Marielle Franco constatou que 8 em cada 10 mulheres negras que disputaram as eleições deste ano foram vítimas de violência na internet. Um desses casos aconteceu no último domingo (6) contra a primeira vereadora negra eleita na história de Curitiba e a terceira mais votada deste pleito, a professora Carol Dartora, que também é dirigente estadual da APP-Sindicato. Ela foi surpreendida com um e-mail contendo ameaça de morte.
“EU VOU TE MATAR – CAROL DARTORA”. Essas foram as palavras utilizadas como assunto, pelo autor da mensagem. “Sua aberração. Macaca fedorenta, cabelo ninho de mafagafos” são os termos que abrem o texto. O ameaçador fez questão de descrever o endereço residencial de Carol e informar que estava disposto a comprar uma arma para “meter uma bala na sua cara e matar qualquer um que estiver junto com você, vou meter uma bala na minha cabeça”.
As palavras são muito fortes e o e-mail foi enviado exatamente um dia depois de ser veiculada, em rede nacional,uma entrevista em que o prefeito reeleito de Curitiba, Rafael Greca, nega a existência de racismo estrutural na capital paranaense. A fala foi feita ao comentar a eleição de Carol Dartora. Greca disse discordar da vereadora eleita sobre essa questão. Em resposta, Carol classificou as declarações como criminosas e acrescentou que “a existência do racismo estrutural não só existe, como é cruel, mata- e está presente na desigualdade do Brasil”.
No dia seguinte às ameaças de morte, a vereadora eleita registrou boletim de ocorrência. O presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Silva Leão, acompanhou o procedimento e comentou o caso em suas redes sociais. “Carol tem sido atacada pelo fato de ser negra e ter sido escolhida por 8.874 eleitoras/es curitibanas/os para ser vereadora. Já sabemos que as ameaças partem através de servidores instalados em outros países. Também sabemos que as mensagens de ataques a lideranças negras eleitas vem de células do neofascismo instaladas no Brasil. É doloroso tudo isto, mas é a oportunidade de expor de vez as mazelas dessa falsa democracia brasileira”.
De acordo com as autoridades policiais, a ameaça recebida por Carol é semelhante às mensagens recebidas por outras mulheres negras, feministas ou LGBTI+, nestas eleições, em diferentes regiões do país. Além do Paraná, já existem investigações nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro com o objetivo de rastrear o autor dos ataques. Os procedimentos ocorrem sob sigilo, mas as suspeitas é de que os ataques são coordenados por grupos neonazistas, racistas e antifeministas que usam servidores de internet de outros países para dificultar a quebra do anonimato.