A secretária executiva de Comunicação da APP-Sindicato, professora Cláudia Gruber, escreveu um artigo sobre o legado do Papa Francisco. O líder da Igreja Católica faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, causando grande comoção no mundo inteiro devido a sua atuação marcante em defesa dos(as) pobres e da justiça social.
>> Receba notícias da APP no seu Whatsapp ou Telegram
“Com um carisma e uma alegria de viver únicos, o Papa Francisco, com sua simplicidade, deixou que nós, pessoas comuns, pudéssemos nos aproximar dele, fez com que criássemos laços de afeto e carinho, sem termos a obrigatoriedade de sermos católicos (praticantes ou não), apenas aceitando os ensinamentos de Cristo”, destaca o texto.
Segundo a dirigente da APP, o pontificado de Francisco foi revolucionário. “Foi o primeiro em muitas situações: o primeiro latino-americano, o primeiro a usar o nome de Francisco, o primeiro bispo a pertencer à Companhia de Jesus. Foi o primeiro a dar um tom mais informal e humanizado ao papado, aproximando-se das pessoas, desprezando luxos e honrarias inerentes ao cargo. Diferente de seu antecessor, Bento XVI, Francisco posicionou-se firmemente quanto a todas as injustiças sociais, às guerras e à necropolítica, defendendo a vida em primeiro lugar”, destaca.
Claudia Gruber é professora da rede estadual de ensino e mestra em Estudos Literários. Leia abaixo a íntegra do artigo.
>>> Leia também: APP-Sindicato manifesta pesar pela morte do Papa Francisco
Artigo: Não chore por mim, Argentina!
Foram doze anos de amor incondicional às pessoas, ao mundo, à natureza. O pontificado de Jorge Mario Bergoglio (1936-2025) foi um dos mais intensos e revolucionários da Igreja Católica. O Papa Francisco não foi apenas o líder de uma igreja, foi um líder de fé, bondade, união e tolerância, pois, no amplo leque das religiões, ele sempre professava a máxima cristã suprema de que todos são iguais diante de Deus.
Sua morte acabou nos pegando de surpresa. No domingo de Páscoa (20), na Praça de São Pedro, rezou, abençoou o povo, circulou entre as pessoas e nos presenteou com belas e profundas palavras em sua homilia: Ele (Cristo) está vivo e permanece sempre conosco, chorando as lágrimas de quem sofre e multiplicando a beleza da vida nos pequenos gestos de amor de cada um de nós.
Com um carisma e uma alegria de viver únicos, o Papa Francisco, com sua simplicidade, deixou que nós, pessoas comuns, pudéssemos nos aproximar dele, fez com que criássemos laços de afeto e carinho, sem termos a obrigatoriedade de sermos católicos (praticantes ou não), apenas aceitando os ensinamentos de Cristo. Francisco é e sempre será aquela pessoa querida, bem humorada que nos acolhe e nos alegra, que nos faz sentirmos íntimos e nos arranca sorrisos, mas também nos traz reflexões e ensinamentos profundos e necessários para sermos melhores em nosso caminhar.
Diz ele: “Mas o mais importante é caminhar juntos, colaborando, ajudando-se uns aos outros; pedir desculpa, reconhecer os próprios erros e pedir perdão, mas também aceitar a desculpa dos outros, perdoando – como isso é importante”! (p. 63, 2014)
Jorge foi o primeiro em muitas situações: o primeiro latino-americano, o primeiro a usar o nome de Francisco, o primeiro bispo a pertencer à Companhia de Jesus. Foi o primeiro a dar um tom mais informal e humanizado ao papado, aproximando-se das pessoas, desprezando luxos e honrarias inerentes ao cargo. Diferente de seu antecessor, Bento XVI, Francisco posicionou-se firmemente quanto a todas as injustiças sociais, às guerras e à necropolítica, defendendo a vida em primeiro lugar.
Nascido e criado em Buenos Aires, Argentina, “hincha fanático de San Lorenzo”, seu clube de futebol do coração, teve uma infância comum e um problema de saúde, que lhe deixou sem parte de um dos pulmões. Praticamente toda sua trajetória religiosa ocorreu no seu país de nascença. Graduado em Filosofia (1960) e Teologia (1969); lecionou Literatura e Psicologia. De 1980 a 1986 foi Reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel e, em 1998, tornou-se arcebispo metropolitano de Buenos Aires. Três anos mais tarde, cardeal.
Ao se tornar Papa em 2013, adotou o nome de Francisco, explicando o motivo de tal escolha em entrevista: Para mim, ele é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e cuida da criação; neste momento, também nós temos uma relação não tão boa com a criação, não é verdade? É o homem que nos dá este espírito de paz, o homem pobre… Ah, como eu gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres! (16 de março de 2013, Vaticano)
Nestes 12 anos de papado, Francisco enfrentou muitos desafios dentro da igreja por suas posições ditas progressistas mas, apenas fiéis aos ensinamentos de Cristo. Acolheu com amor e compaixão, casais divorciados, mulheres e homossexuais, o que causou polêmicas e contrariedades sendo, inclusive, acusado por uma das alas mais ultraconservadoras de herege. Isso ocorreu em 2019, numa carta pública assinada por 19 sacerdotes e teólogos. O grupo alegava que ele, Francisco, aproximou-se de muçulmanos, protestantes, homossexuais, divorciados, não se opôs com força ao aborto, entre outras acusações, inclusive de valorizar e exaltar a força e a coragem das mulheres no sacerdócio e na vida.
Por essa quebra de paradigmas, o Papa Francisco aproximou-se ainda mais de católicos e não católicos, operando profundas mudanças dentro da Igreja Católica, fazendo dela uma forma de se comunicar com o mundo, denunciando as injustiças sociais que tanto mal vêm causando ao mundo. Em mais de 45 viagens, passou por 66 países, inclusive no Brasil em 2013, logo após assumir o pontificado. Aqui, participou da 28ª Jornada Mundial da Juventude, falando para mais de 3 milhões de jovens na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Em suas quatro encíclicas, Lumen fidei (2013), Laudato si (2015), Fratelli tutti (2020) e Dilexit nos (2024), tratou de assuntos até então inéditos como o aquecimento global, da necessidade que temos de cuidar da Terra, nossa casa que vem sendo destruída por um consumismo irresponsável. Há também 11 livros escritos que tornaram leves e acessíveis as palavras de Cristo, que falam sobre juventude, velhice, covid, sociedade, enchendo de fé, esperança e coragem seus leitores.
Apesar dos inúmeros problemas de saúde que enfrentou nos últimos anos, para Francisco, viver na fé sempre foi viver com alegria. “Queridos amigos, se caminhamos na esperança, nos deixando surpreender pelo vinho novo que Jesus não oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha.” (p.56, 2014).
Por isso, não choraremos por Você, Francisco. Exaltaremos seus ensinamentos pois, sabemos que Você continuará bem perto de nós. Enchendo de luz e alegria nossos caminhos, hoje e sempre.
Por Cláudia Gruber: professora da rede estadual de ensino, mestra em Estudos Literários, secretária executiva de Comunicação da APP-Sindicato.
FRANCISCO, Papa. A Igreja da Misericórdia: minha visão para a Igreja. Organização Guiliano Vigini. São Paulo: Paralela, 2014.