APP-Sindicato repudia Monitor da Doutrinação da Gazeta do Povo

APP-Sindicato repudia Monitor da Doutrinação da Gazeta do Povo


A APP-Sindicato, entidade que representa os(as) professores(as) e funcionários(as) da rede pública do Paraná, e que há 70 anos luta por uma escola pública capaz de formar cidadãos(ãs) livres e socialmente responsáveis,  vem a público manifestar o repúdio contra o jornal estadual Gazeta do Povo com a divulgação do Monitor da Doutrinação.

A Gazeta do Povo, ao divulgar o que chama de “nova plataforma de denúncias”, demonstra, além de desrespeito com profissionais da educação, o despreparo pedagógico e humano, ao incitar, na escola, o clima de denuncismo e perseguição.

O jornal estimula que pais, mães, estudantes e comunidade denunciem o que, individualmente, considerem fora dos seus valores familiares, religiosos, políticos e sociais. O acervo de “reclamações” fica virtual e publicamente disponível para leitura em um espaço de destaque no portal do jornal. Assim, a Gazeta faz da sala de aula, palco de repressão moral.

O patrulhamento é contraditório a um meio de comunicação que, tantas vezes, se vale de conceitos como a liberdade de imprensa e liberdade expressão

O patrulhamento é contraditório a um meio de comunicação que, tantas vezes, se vale de conceitos como a liberdade de imprensa e liberdade expressão (valores tão democráticos) para justificar suas publicações – mesmo aquelas que expõem, instauraram o medo e questionam os salários, as mobilizações e até  a formação e capacidade crítica dos(as) educadores(as) paranaenses.

Hoje, não há, em nenhum veículo credível, espaço para que o(a) cidadão(ã) divulgue imagens e/ou áudios da sua última consulta médica questionando a conduta do profissional de saúde. Também não há, nas redações jornalísticas ou nas salas de reuniões de pauta, câmeras que mostrem ao cidadão o espaço onde são decididas quais as notícias serão publicadas naquele dia. A esses profissionais cabe a decisão do que é noticiável, chamado de gatekeeper, e a possibilidade de não divulgar suas fontes, em casos singulares. Entretanto, aos(às) professores(as), cabe o recorte de falas, de imagens ou de situações que os(as) exponham e coloque em dúvida sua capacidade formadora?

O Monitor da Doutrinação parece ter muito mais uma preocupação política do que realmente educacional. Ao incitar postagens de denúncias sobre as supostas “doutrinação política” e “ideologia de gênero” – termo já erroneamente carregado de valores moralistas e excludentes – o jornal quer colocar a sociedade em uma disputa maniqueísta. É uma caça ao comunismo, como vista em períodos sombrios da história mundial.

Se o jornal Gazeta do Povo está realmente tão preocupado com o conteúdo pedagógico repassado em sala de aula, por que não há nenhuma matéria ou divulgação da Conferência Nacional Popular de Educação (Conape)? As etapas municipais acontecem neste mês. Esse é o espaço organizativo e democrático aberto a todo e qualquer cidadão que queria propor, sugerir, debater sobre tudo que se passa nas escolas (conteúdo, formas de administração, como tratar das questões de igualdade, etc).

Também há no jornal, pouco espaço para que os(as) defensores(as) dos direitos dos(as) trabalhadores(as) cobrem soluções e punições para os desvios de verbas das escolas públicas e sobre o dia em que o governo estadual usou de força física e feriu mais 300 pessoas em manifestação pacífica. Por que não abrir um canal onde a comunidade escolar possa relatar situações de falta de merenda, de superlotação nas salas de aula ou de professores trabalhando doentes e sob ameaças do governo?

As escolas públicas estão sim repletas de problemas graves e precisam do olhar e da indignação social. Mas reduzir e atacar professores(as) e funcionários(as) por recortes esvaziados de sentido pedagógico e carregados de mercantilismo e moralismo é ferir o direito à liberdade de expressão, restringindo e inibindo os espaços de manifestação de ideias e posições, não só dos(as) agentes formadores mas também dos(as) estudantes. Isso não melhora o dia a dia nas escolas.

A escola deve ser um espaço de pluralidade de ideias, de ensino e aprendizado, de respeito e de promoção de valores como a igualdade.

 A escola deve ser um espaço de pluralidade de ideias, de ensino e aprendizado, de respeito e de promoção de valores como a igualdade. Amordaçar professores(as) ou censurar conteúdos é uma das muitas formas de fomentar a homofobia, a misoginia e o racismo. É excluir dos(as) alunos(as) a reflexão crítica sobre os processos históricos e sociais.

A APP-Sindicato defende e trabalha para que a educação não seja uma simples atividade técnica de instrução. O Sindicato reforça que o que é ensinado em sala de aula deve subsidiar o amadurecimento e a autonomia intelectual e moral das pessoas.

Curitiba, 08 de dezembro de 2017

Direção Estadual da APP-Sindicato

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