Na próxima quarta-feira (27), a Secretaria de Estado da Educação e Esportes (Seed), aplica a quarta e última etapa da Prova Paraná deste ano. De acordo com a Seed, mais de 430 mil alunos do Ensino Básico, Fundamental, Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) serão avaliados(as) por meio de uma prova com questões de língua portuguesa e matemática.
Durante todas as etapas, as provas apresentaram erros graves que atrapalharam o processo de correção e aplicação de prova. A APP-Sindicato denunciou também a tentativa do governo Ratinho e do secretário da Educação, Renato Feder em impor a pedagogia dos resultados, a qual faz parte de uma política empresarial para a educação. “Nós já fizemos críticas a essa gestão tão focada na realização de provas. As provas como centro da educação distorcem o papel da avaliação escolar. Reconhecemos a importância de avaliar os alunos, mas não da forma como a Prova Paraná tenta instituir”, conta o presidente da APP-Sindicato, Professor Hermes Leão.
Com o intuito de demonstrar o descontentamento da categoria com mais essa medida da Seed, a APP-Sindicato convoca os(as) professores(as) a participar do boicote contra a prova. “Estamos propondo que educadores(as) e estudantes promovam um boicote a essa prova, porque não existe motivos para a execução desta avaliação. Esse boicote serve também para que todos realizem uma reflexão, questionando se é este modelo de escola que queremos, uma escola que é voltada para a produção de fábrica. A educação é mais rica que isso e tem um papel mais amplo, de trabalhar com a formação de estudantes e que eles(as) possam exercer a cidadania plena”, enfatiza Professor Hermes Leão.
Além do boicote, o Sindicato realizará uma mobilização com a comunidade escolar, promovendo uma panfletagem com as atuais políticas empresariais de Feder. O presidente da APP-Sindicato enfatiza que todos os ataques de Feder serão denunciados à população. “Toda e qualquer política educacional que será implantada do Estado precisa de planejamento e condições, mas percebemos que tudo isso foi atropelado. Tudo isso se soma as críticas que temos feito. Estamos em um ano que os professores(as) foram pressionados para preparar os alunos para prova e depois a trabalhar em cima daquele conteúdo, que é muito limitado”.
Assembleia Estadual
Visando definir os próximos passos do Sindicato frente aos ataques de Ratinho, a APP-Sindicato convoca toda a categoria para participar da Assembleia Estadual, que ocorre no próximo sábado (23). Além da reforma, devem ser abordados temas como: prorrogação da contratação de PSS, resolução de distribuição de aulas e avaliação da Pauta da Categoria. A Assembleia será realizada na Sede Estadual da APP-Sindicato, na Av. Iguaçu, 880, com início às 8h30.
Confira a nota da APP-Sindicato sobre a Prova Paraná:
Um projeto grandioso que trará em si um sistema vertical de responsabilização
A Seed, nas várias intervenções que fez para explicar a prova, tem dito que ela servirá como diagnóstica das aprendizagens esperadas em alguns dos anos do Ensino Fundamental e Médio, assim como, avaliará a EJA e a Formação de Professores(as)e terá frequência bimestral. As próximas provas ocorrerão em Junho e Setembro. Quem organiza a prova é o CAED da Universidade Federal de Juiz de Fora, um think tanks das avaliações educacionais de larga escala no Brasil. Eles são responsáveis pela elaboração da prova do SAEP como de resto, da maioria dos sistemas de avaliação dos estados e municípios brasileiros. Esta primeira etapa envolverá 4500 escolas, 26.500 turmas de EJA (Fase II e Ensino Médio), 4o ano da Formação docente; 5os, 6os e 9os anos do Ensino Fundamental e 1os e 3os anos do Ensino Médio), totalizando algo em torno de 600.000 estudantes. Os conhecimentos avaliados nesta primeira etapa envolvem matemática e português.
É um projeto grandioso e ambicioso, e, ainda que a Seed não admita que a prova tenha como objetivo criar padrões de comparação, evidentemente que isso acabará acontecendo, até mesmo porque esta é uma finalidade intrínseca a este tipo de avaliação estandardizada, gerando ranqueamento entre as diferentes redes e escolas e, como consequência, teremos um modelo vertical de responsabilização, que em um futuro próximo gerará algum sistema de bonificação.
Para um bom processo pedagógico é importante a avaliação diagnóstica, ainda mais no começo do ano. Nossos(as) professores têm ampla condições e competência pedagógica para elaborar e aplicar as provas. Sãos eles(as) que têm a responsabilidade pedagógica de avaliar as informações geradas nas avaliações e ajustar seu plano de ensino a estas informações, tomando o cuidado de levar em conta na reorganização da atividade de ensino, os contextos em que se produzem a aprendizagem.
Também é necessário considerar que processo educacional não pode ser reducionista a um ou outro conhecimento. Ele tem que ser humanizador e totalizante. A avaliação só encontra sentido se analisada e compartilhada também nestes aspectos. Daí a importância das mediações pedagógicas entre equipes pedagógicas e professores(as) e entre os(as) próprios(as) professores(as), tendo como direcionamento o que se estabelece nos PPP escolares que vislumbram em seus mapas conceituais – após analise detalhada de contexto –, a humanidade que se quer constituir com o processo educativo. Isso não é possível num processo estandardizado em que se avaliam apenas dois conhecimentos de forma estanque com base em uma régua padronizada de proficiências.
Nossa defesa sempre é por um sistema de avaliação sistêmico, compreendendo os resultados escolares como consequência de uma série de fatores extra e intraescolares e que intervêm no processo educativo em que se considera a aprendizagem e o conseguente rendimento escolar como produto, não só do conhecimento em si, mas também das práticas sociais. Nesse sentindo, envolve um conjunto grande de variáveis que precisam ser ponderadas. As desigualdades sociais e regionais; os contextos histórico-culturais; a qualificação, os salários e a carreira dos(as) professores(as); as condições físicas e equipamentos das instituições educativas; o tempo diário de permanência do(a) estudante na instituição; os projetos político-pedagógicos e planos de desenvolvimento institucionais construídos coletivamente; o atendimento extraturno aos(às) e o número de estudantes por professor(a) atendidos(as), são algumas das variáveis a serem ponderadas e que subjazem o processo avaliativo e nos quais se balizam o processo de ensino-aprendizagem
Defendemos uma política de avaliação voltada para a qualidade da educação como um todo, para a democratização do acesso, da permanência e da aprendizagem e que deve ser entendido como processo contínuo que contribua para o desenvolvimento humanizante dos(as) educandos(as), das escolas e, porquê não, dos próprios sistemas de ensino e não apenas para o ranqueamento e responsabilização.
Direção Estadual da APP-Sindicato
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