A CNTE realizou nesta quarta-feira (11), o seu 2° Seminário Internacional, em Brasília. O evento ocorreu no Centro de Convenções Ulysses Guimarães e reuniu 34 representantes de diversos países, além do movimento social brasileiro.
De acordo com o presidente da CNTE, Roberto Leão, o objetivo do encontro é trocar experiências e fortalecer o engajamento dos(as) trabalhadores(as) em educação nas lutas da sociedade brasileira por mais e melhores serviços públicos e pela garantia de direitos individuais e coletivos. “É necessário reforçar a luta pela liberdade e autonomia sindical, contra a repressão e a perseguição de lideranças sindicais no Brasil e no mundo”, avaliou. “É importante construir alianças com nossos companheiros no mundo inteiro para juntos lutarmos pela educação. Nós nascemos para sermos felizes e unidos temos capacidade de construir um mundo melhor”, disse Leão.
Durante suas palavras de saudação na abertura do Seminário, a professora Fátima Silva, Secretária de Relações Internacionais da CNTE e Vice-Presidenta da IEAL, fez um reconhecimento aos avanços que os trabalhadores e trabalhadoras da educação têm alcançado ao longo dos últimos anos. “Temos que valorizar essa conferência como uma grande oportunidade de construir e fortalecer laços de solidariedade entre os países”, enfatizou.
O Presidente da Internacional da Educação para a América Latina (IEAL), Hugo Yasky, fez uma análise da conjuntura política atual. “Esse seminário é muito importante, pois temos que proclamar a união de todos os países para gerar ações que permitam que os trabalhadores possam encontrar a saída para as crises e a repressão sindical que está ocorrendo em toda a América Latina”, destacou Yasky.
De acordo com o Secretário de Finanças da CNTE, Antonio Lisboa, o golpe no Brasil se deu em três pilares, o primeiro foi geopolítico, ou seja, o poder dos EUA influenciou, o segundo foi uma questão econômica, acesso aos bens naturais do Brasil, como o pré-sal e a água, e o terceiro, pela manutenção dos direitos das elites mesquinhas e corruptas que querem manter o povo subserviente.
“Temos que politizar o debate e lutar pela democracia, pela justiça social e questões ambientais, somos responsáveis pelo mundo que vamos deixar para nossos filhos”, concluiu Lisboa. As organizações convidadas exibiram trabalhos relacionados aos desafios educacionais de seus países, projetos dos movimentos sindicais envolvidos com o tema e apresentaram um panorama geral do assunto em cada região.
Os “Desafios Educacionais e Políticos nos Países da América Latina” foi o tema da primeira mesa. De acordo com a Secretária-Geral da Federação Uruguaia do Magistério e Trabalhadores de Ensino Primário (FUM-TEP), Elbia Pereira, o principal desafio dos trabalhadores é manter o diálogo com a sociedade. “Temos que nos unir e fazer com que toda a sociedade se sinta incluída nas nossas lutas e consequentemente nas nossas conquistas”, avaliou. Representantes da Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, entre outros, falaram sobre os “Desafios Educacionais e Políticos nos Países da África”. Beatriz Muhorro Manjama, presidente da Organização Nacional dos Professores (ONP), de Moçambique, expôs a dificuldade que os educadores enfrentam no seu país.
“Estou muito feliz de estar aqui, pois as informações que estou adquirindo vou transmitir aos meus colegas em Moçambique. Em agosto vamos realizar o nosso congresso e vou utilizar essa experiência rica. O trabalho no meu país é muito difícil, damos aulas para mais de 100 crianças sentadas no chão, debaixo de árvores e quando começa a chover a aula precisa ser encerrada, mas não vou deixar de lutar, pois só deixa de lutar quem não quer viver e eu quero viver.”
Participaram também da última mesa do evento entidades da Alemanha, Canadá, Noruega, Estados Unidos, Suécia e Japão, entre outras. “Assim como nos outros países que já falaram aqui hoje, os movimentos sindicais estão sob forte ataque nos EUA também. Menos de 6% dos trabalhadores pertencem aos sindicatos, o que torna o movimento cada vez menos eficiente, mas nós estamos prontos para lutar. Os nossos professores estão tirando fotos com um cartaz dizendo eu sou um educador sem medo e estamos fazendo um trabalho muito grande nas redes sociais. Gostaria de convidar a todos para participarem dessa nossa campanha”, afirmou o representante dos Estados Unidos, Louis Malfaro.
Para Steffen Handal, da Noruega, no seu país existem quatro desafios a serem superados. “O primeiro, a luta por uma educação livre para todas as crianças, o segundo é o recrutamento da próxima geração de professores, em terceiro lugar a luta pela autonomia pedagógica e em quarto a luta para profissionalizar a profissão de professor não gerida pelo governo, mas sim pelos próprios professores”, enumerou.
O Secretário da Zenkyo, sindicato dos professores do Japão, Takaya Dambara ressaltou a importância do evento da CNTE e convidou a todos para um simpósio em 2018 no Japão. “O tema do nosso evento será “Políticas para professores”, queremos estabelecer uma visão clara e ampla do trabalho dos trabalhadores em educação, queremos pensar coletivamente e trocar experiências com outros sindicatos”.
Ao final do evento, a professora Fátima Silva, secretária de Relações Internacionais da CNTE lembrou dos companheiros de luta que já faleceram e pediu um minuto de aplauso ao ex-presidente de Portugal, cofundador do Partido Socialista de seu país, Mário Soares, que morreu no último dia sete de janeiro.
A secretária enfatizou ainda que como resultado do seminário, a CNTE irá fazer uma publicação com todo o material produzido pelo debate, para relatar a luta educacional e a realidade sindical no mundo.