Há 18 anos atrás, o estado do Paraná foi marcado por uma intensa luta por parte dos(as) servidores(as), sindicatos, movimentos sociais, estudantes e sociedade civil organizada, para garantir que a Copel não fosse privatizada. Para barrar a iniciativa entreguista do então governo Jaime Lerner, os(as) manifestantes ocuparam a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) para defender a estatal de energia. Sendo uma das empresas paranaenses mais rentáveis, a Copel sofre mais uma vez ataques por parte do executivo, que estuda privatizar a Copel Telecom, subsidiária da estatal.
Luta pela empresa do povo
No ano de 2001, o Brasil e o Paraná passava por um amplo processo de privatização do patrimônio público. Na época, todo o sistema de telefonia e estradas foram vendidas e a Copel, considerada a Jóia da Coroa, estava entre os patrimônios públicos que o governo tinha interesse em vender. Para barrar a tentativa de venda, os(as) servidores(as) da Copel, junto com sindicatos unificaram a luta para frustrar os planos de Jaime Lerner.
Segundo Marlei Fernandes, na época Secretária de Formação Político Sindical da APP-Sindicato, o Sindicato participou da luta, produzindo cartilhas, promovendo debates nas escolas, realizando panfletagens para a população e também um trabalho intenso contra o governador.
“No dia das mobilizações em frente ao Palácio Iguaçu e Alep, onde a proposta de privatização estava sendo votada, foi um dia de muito confronto, mas também de muita luta. Muita gente ficou machucada, os(as) estudantes foram a frente de todo o movimento, até a ocupação, já no final do dia, quando se impediu que a votação ocorresse. Nós da APP-Sindicato, naquele momento, ficamos nas ruas fazendo a luta”, destaca a Presidente do Fórum das Entidades Sindicais.
O deputado estadual Professor Lemos (PT), também esteve presente no dia da ocupação. Então presidente da APP-Sindicato, ele relembrou que na mesma sessão se votava o primeiro Projeto de Iniciativa Popular (PLIP) enviado para o legislativo, o qual tentava barrar a privatização da Copel.

“Aqui estava tramitando um PLIP, o primeiro do Brasil. Com mais de 200 mil assinaturas de paranaenses e muitas destas colhidas por estudantes nas suas comunidades. Os(as) estudantes vieram aos milhares, ao lado dos pais, professores(as) e dos(as) paranaenses para acompanhar a sessão. Como as portas estavam fechadas, a população deu um jeito de entrar na Alep e aí a sessão foi suspensa. Porém, os desdobramentos desta luta de milhões de paranaenses salvou a Copel e hoje a Copel é uma companhia maior do que era”, destaca Lemos.
Alto rendimento barrou a privatização
No período em que se tentou privatizar a Copel, a oposição argumentou que a empresa era um patrimônio do povo paranaense e por isso a população deveria defender o que é de seu interesse, mantendo o estado como dono da empresa. Isso evitaria encarecer ainda mais as tarifas de energia e serviços públicos prestados pela estatal.
A deputada Luciana Rafagnin (PT), relembra que além de destacar a importância da empresa para a população, a oposição reforçou que a empresa gerava rentabilidade para o estado. “Em 2001, época em que se caminhava para a privatização da empresa, o movimento destacava que a Copel “obteve lucro de R$ 1,3 bilhão nos últimos quatro anos (1997 a 2000)”. Somente como comparação, atualmente, sendo mantida como estatal, a Copel atingiu lucro de R$ 1,1 bilhão apenas no primeiro trimestre de 2019, sendo que desse valor, R$ 506 milhões são líquidos, representando um crescimento de 42,2% em relação ao mesmo período de 2018”.
A deputada reforça ainda que lutar pela Copel é necessário e relembra que as potências mundiais trabalham para reestatizar empresas chave para o desenvolvimento econômico. ” No mundo todo, o caminho adotado é o inverso. Foram feitas na última década mais de 900 reestatizações, em especial em países ricos, como Estados Unidos e Alemanha, citando os dados apontados no artigo do diretor do Sindicato dos Engenheiros”, enfatiza Rafagnin.

Só a luta impede o retrocesso
Assim como em 2001, o governo estuda privatizar a subsidiária que gerencia o setor de internet e fibra ótica. Em comunicado ao mercado, publicado no dia 11 deste mês, a estatal divulgou a contratação do Banco Rothschild, para atuar como assessor financeiro, e do escritório de advocacia Cescon Barrieu, para atuar como assessor jurídico da Copel no estudo de “potencial alienação do controle da subsidiária”.
A realização de estudos que mostrem o potencial de privatização da subsidiária tinha sido aprovada em abril passado, após deliberação do Conselho de Administração da estatal. “A Copel contratou um banco estrangeiro para assessoria financeira e um escritório de advocacia para assessoria jurídica a fim de embasar estudos sobre a privatização da Copel Telecom. Segundo informações da direção do Senge-PR, publicadas recentemente no portal de notícias Porém.Net, foi gasto por meio de dispensa de licitação, R$ 3,7 milhões. Por que uma empresa que gasta só com estudos essa quantia precisa se desfazer de patrimônio que, em última análise, pertence ao povo paranaense?”, questiona a Luciana Rafagnin.
Marlei Fernandes compara ainda o atual movimento de privatizações no país com o ano de 2001, porém destacando que atualmente a situação está pior, com uma tentativa intensa da destruição da soberania nacional. Ela reafirma que os paranaenses construíram o estado com seus impostos e por isso é necessário defender o patrimônio. “Nós temos que unificar todos os seguimentos, sendo eles movimentos sindicais, movimento popular, partidos, movimentos sociais, igrejas, fóruns, enfim, toda a sociedade tem que se manifestar nesse momento. Temos que reunir forçar para que este processo de privatização não aconteça”, finaliza a presidenta do FES.