Anunciado como inovação, o aplicativo Aula Paraná, que o governo Ratinho Junior contratou de uma empresa privada para substituir as aulas presenciais, durante a pandemia da Covid-19, tem gerado caos e a indignação de pais(mães), estudantes e professores(as) da rede pública do Paraná.
Disponível para sistemas Android e IOS, o aplicativo registra altas taxas de reprovação, na avaliação dos(as) estudantes(as) que baixaram o programa. Na loja Play Store (Android), a nota do Aula Paraná é 1,6. Na Apple Store (IOS) a média é ainda mais baixa, 1,5. Os dados foram coletados na tarde desta terça-feira (7).
Nos comentários registrados nas plataformas, os(as) usuários(as) justificam as notas. Alguns criticam que não conseguem fazer o login e que acham o aplicativo confuso. Outros relatam que a proposta do governo exclui muitos(as) estudantes que não têm os recursos tecnológicos para ensino a distância.
Chuva de críticas
Para a usuária que se identificou como Ana Clara Grama, o projeto do governo “não vai dar certo!”. “Cara, não tem como isso dar certo, tem muita gente que não tem acesso à internet ou um bom aparelho para poder baixar o app, é triste ver que estão escolhendo quem vai estudar e quem não durante esta crise, pq o governo tem total ciência de que nem todos os paranaenses têm as necessidades básicas de tecnologia para ter acesso a esse tipo de estudo”, escreveu.
Para LczBlack Official, além das falhas no aplicativo, a preocupação também é com o aprendizado. “Um aplicativo completamente inútil onde ngm vai aprender absolutamente nada, se o Aluno mal aprendia na escola imagina fora dela, isso é uma perda de tempo, sem contar que tem falhas nesse aplicativo, erros que simplesmente poderiam ser corrigidos, porém até isso os desenvolvedores tem preguiça de corrigir. Lamentável”, escreveu.
Leia abaixo mais comentários dos(as) estudantes.
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Governo precisa aprender a respeitar a escola pública
Na avaliação do presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Silva Leão, a forma como governo Ratinho Junior e o empresário Renato Feder, secretário da Educação, fazem a gestão da educação paranaense promovem o atraso ao tomar decisões autoritárias e sem escutar a comunidade escolar.
“Nós repudiamos essa metodologia e temos insistidos que o governo pare com essas medidas, que não são planejadas e causam transtornos para a vida da categoria, de estudantes e de seus familiares”, disse.
Hermes explica que o Sindicato defende a suspensão do calendário escolar e que a reposição dos conteúdos seja realizada com a participação de toda a comunidade escolar, respeitando as realidades da educação pública.
Propaganda x realidade
Apesar do aplicativo ser gratuito, o estudante precisa ter internet móvel ou banda larga para baixar e fazer a instalação, mas o governo não explicou como os(as) estudantes que não têm internet vão fazer isso. Segundo pesquisa do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), 33% dos lares brasileiros não têm acesso a internet.
Em um vídeo postado em uma rede social, o empresário Renato Feder, secretário da Educação, afirmou que a meta do governo é atingir 90% do total de 1 milhão de estudantes da rede pública. Pelos números da Play Store, o governo está muito distante da meta.
Além disso, de acordo com especialistas em educação a distância, a modalidade não é indicada para crianças e adolescentes, potencializando os riscos de formação ruim, aumento da evasão e o baixo desempenho dos estudantes.
Outro problema é que a maioria dos(as) professores(as) da rede pública não possui e não recebeu formação para atuar no ensino a distância.
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Mais de R$ 21 milhões gastos sem transparência e sem licitação
Com a justificativa de que não tem dinheiro, o governo Ratinho Junior tem retirado direitos dos(as) professores(as) e funcionários de escola, mas, do dia para a noite, arrumou mais de R$ 22 milhões para contratar, sem licitação, empresas privadas para implantar o projeto de ensino a distância na rede pública estadual, durante o período de isolamento social devido a Covid-19.
O maior valor, R$ 20,9 milhões, vai para as empresas de telefonia celular, contratadas para o uso de dados pelo aplicativo Aula Paraná. O segundo maior gasto, R$ 900 mil, é com a TV Record. A emissora foi contratada para transmitir aulas através de canais abertos. Outro gasto, R$ 300 mil, vai para a IP-TV LTDA, para a construção de uma “plataforma de streaming que dialogue com as operadoras de telefonia móvel”.
As informações foram publicadas apenas de forma resumida no Diário Oficial do Estado. Os dados completos e documentos como contratos ainda não estão disponíveis no Portal da Transparência.
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Mais comentários dos(as) estudantes
Kamili Servo, comentou que não consegue acessar o aplicativo e que não acha o EaD a melhor solução, “por ter pessoas que não tem acesso a uma televisão, muito menos um celular”.
“Estou tentando a muito tempo logar e não consigo, tenho colegas que também não, provavelmente irei ficar com faltas e sem assistir as aulas pelo sistema não funcionar. Meu celular é novo, roda aplicativos mais pesados que esse, desinstalei todos eles pra tentar rodar e não vai. Achei que pudesse ser sistema sobrecarregado mas são uma da manhã e mesmo assim não entra. Também não acho que seja a melhor solução, por ter pessoas que não tem acesso a uma televisão, muito menos um celular”, comentou.
Alanis Quintana Teixeira destacou também o caráter excludente da proposta do governo. Para ela, “é mais um sinal de como essas pessoas são invisíveis ao olhos do Estado”.
“Tentar fazer as aulas continuarem – marcando presença, avaliando e entregando novo conteúdo – através de um aplicativo, sem considerar que estamos falando de escolas PÚBLICAS, é extremamente utópico e descabido. Desconsiderar que em escolas públicas uma grande parte dos alunos sequer tem um celular, um computador, ou até rede wifi pra poder acessar os conteúdos e simplesmente seguir com as aulas é mais um sinal de como essas pessoas são invisíveis ao olhos do Estado”, avaliou.
Para a usuária que se identificou como Adriane Borges Borges da Silva, a proposta do governo “foi uma decisão cheia de erros”.
“Meu deus , vocês acham mesmo que isso vai dar certo? Que todo mundo tem celular ou wi-fi? Ou uma teve digital? E o ensino realmente vai ser melhor assim? E se contar que tem muitos alunos que trabalham no período das aulas. Que todos os alunos vão se conectar e prestar atenção na aula proposta, que não vão esquecer ou só deixar o celular ou a tv ligados.. Realmente isso foi uma decisão cheia de erros, e sem contar que os aplicativos relacionados ao Paraná São muito mal desenvolvidos”, comentou.
Comunidade escolar deve rejeitar
A secretária Educacional da APP-Sindicato, professora Taís Mendes, explica que o sindicato se posicionou contra a proposta de EaD e defende a reposição das aulas com a interação presencial entre estudantes e professores(as), após o fim do isolamento social.
“A imensa maioria de nossos professores não teve formação em educação a distância. Nossas escolas não estão organizadas e preparadas para realizar um planejamento em EaD. Como as nossas escolas vão orientar nossos estudantes? A imensa maioria dos estudantes não têm recursos necessários para realizar as atividades a distância”, explica.
De acordo com Taís Mendes, a deliberação do Conselho Estadual de Educação do Paraná sobre o EaD prevê que a implantação dessa modalidade de ensino durante a pandemia precisa da autorização do(a) diretor(a) de cada escola. “Neste sentido, nós orientamos que a comunidade escolar também se manifeste e recuse essa proposta”, disse.
“A APP-Sindicato defende a universalidade, a equidade e a qualidade pedagógica do processo ensino-aprendizagem, com atendimento à diversidade das nossas escolas e dos nossos estudantes, mas o ensino à distância não atende a esses princípios”, explica Taís.
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