Análises de conjuntura: precisamos criar outro modelo hegemônico

Análises de conjuntura: precisamos criar outro modelo hegemônico


Dois debatedores de peso foram convidados para fazer a análise de conjuntura internacional e nacional, na abertura do XII Congresso Estadual da APP-Sindicato, que está sendo promovido em Foz do Iguaçu a partir de hoje (26) até a quinta-feira (28). O dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), João Pedro Stedile, e o representante da Central Sindical das Américas (CSA), Rafael Freire. Para ambos, a crise, iniciada em 2008, e aprofundada ainda mais nos dois últimos anos, não é apenas econômica, mas também política, social e ambiental. Os dois também compartilham o entendimento de que a atual crise será longa e exigirá, da classe trabalhadora, ainda mais união e resistência.

Logo no início da palestra, Stedile destacou a importância dos(as) educadores(as) para o MST. “Muitos de vocês levam à frente nossas escolas nos acampamentos. Muitos nos ajudaram a fazer as ocupações e a luta contra o latifúndio. E foi com vocês que aprendemos, como MST, que mais do que a terra, só o conhecimento liberta verdadeiramente as pessoas. No início do nosso movimento só pensávamos na terra, porém, na nossa trajetória margeada por vocês, compreendemos que a terra dá trabalho e produz alimentos, mas a vida é muito mais ampla. Então, percebemos que tão importante quanto lutar por terra, é lutar pela educação. Por isso vocês são os nossos companheiros de luta pela reforma agrária”, reconheceu.

No cenário nacional, o dirigente do MST não fugiu a crise que afeta o país. De acordo com ele, a crise econômica é fruto da dependência estrutural que a economia tem do capitalismo internacional e da influência que as empresas transnacionais sobre a economia brasileira. “A burguesia controlou a taxa de juros e de câmbio para viabilizar o seu processo de acumulação. E, mesmo com a crise, muitos capitalistas internacionais continuaram ganhando dinheiro e lucros continuaram sendo enviados para o exterior, tornando mais grave a situação, pois em vez da nossa riqueza ser reinvestida no Brasil e alimentar nossa economia, bilhões de dólares foram transferidos para o exterior, das filiais para as matrizes”, explica.

Para ele, quando se fala de conjuntura política, é necessário fazer um exercício de leitura da correlação de forças da luta de classes, que disputa o território, a riqueza e o poder político. E ao fazer este exercício, Stedile sentencia: o Brasil está vivendo um período especial e muito grave da sua história. “Que podemos comparar com o que foi a crise da década de 60. E a saída daquela crise foi que a burguesia, para derrotar os trabalhadores, apelou para uma ditadura militar, abastecida pelos Estados Unidos”, relembrou. Em sua análise, o líder do MST afirmou que a saída destas crises dependerá, também, de uma nova correlação de forças. Para isto, os movimentos sociais e progressistas precisam ‘contagiar’ a sociedade em geral, trazer o povo para a luta.

De acordo com o secretário de Política Econômica e Desenvolvimento Sustentável da Confederação Sindical das Américas (CSA), Rafael Freire, o atual momento ainda é um reflexo da crise iniciada como resultado das políticas neoliberais. Ele avaliou que os países centrais cobram a conta dos países mais pobres, que não tinham um lastro mundial para sustentar a crise da economia. “Nós não fizemos reformas estruturais”, argumentou.

Freire também sustentou que o cenário é potencializado por uma impressão de caos imposta pelos setores conservadores, sobretudo, com o apoio da grande mídia, e destacou que esta situação não é exclusiva do Brasil, mas de todos os países da América Latina com governos progressistas. “Precisamos ter posições políticas articuladas, seja de partidos políticos ou dos movimentos socais”, alertou. Para Freire, é necessário orientar os nossos movimentos e as nossas entidades para uma disputa real. “Devemos disputar que democracia nós queremos. Não só a participação popular, mas a disputa de valores”, afirmou.

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