Com olhos e ouvidos atentos, os mais de 150 educadores (as) que participam do II Seminário Estadual de Assuntos Municipais, promovido pela APP-Sindicato durante este final de semana, acompanharam as palestras da mesa de abertura, realizada na noite desta sexta-feira (4), na sede estadual da entidade. As exposições iniciais ficaram sob a responsabilidade do militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Roberto Baggio, e pela secretária Geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a professora Marta Vanelli. Em ambas, foram traçadas a relação entre os cenários político e financeiro, nacional e estadual, com os desafios enfrentados pelos(as) educadores(as) nas redes municipais do Paraná.
A abertura da atividade também foi marcada pelo clima de indignação que contagiava os presentes, em vista da ação violenta, injusta e ilegal, da manhã de hoje, em que o ex-presidente Lula foi levado coercitivamente para depor na Polícia Federal de São Paulo. Para o secretário estadual de Assuntos Municipais, professor Celso José dos Santos, não poderia ser diferente. “Esta abertura foi, de fato, muito significativa. Porque ela acontece num contexto nacional muito significativo. Nós vimos um atentado grande à democracia e vimos, paralelamente, a grande reação dos trabalhadores e trabalhadoras da Educação. E esta plenária serviu como oportunidade para que grandes lideranças populares se manifestassem e trouxessem este cenário de desafio para as redes municipais”, avaliou.
O presidente da APP, professor Hermes Silva Leão, também foi enfático sobre o tema na saudação de abertura que fez aos presentes. “Está posto um desafio imenso ao nosso país. Não podemos desconsiderar o cenário de forças reacionárias e repressoras. O que está em jogo no cenário brasileiro, parecido com o que ocorre na Argentina, é uma ameaça aos avanços e direitos conquistados, a duras penas, pelos trabalhadores brasileiros. É o avanço de uma direita que se põe acirradamente, inclusive, no processo das eleições municipais. É uma reorganização de forças que não respeita os direitos sociais e trabalhistas que nós, a duríssimas penas, conquistamos através de lutas que duraram décadas. E isto deve inquietar a todas e todos nós. E as redes municipais são ainda mais frágeis. Por isto precisamos entender a conjuntura mais ampla do país”, alertou.
Durante a sua fala, Baggio destacou que há uma crise estrutural, no momento, do capitalismo. “A crise central afeta os países mais ricos e estes vão distribuir suas perdas nos países mais pobres do mundo”, afirma. O cenário turbulento é o momento perfeito para as tentativas de implantação do modelo capitalista em todas as esferas. “Grandes grupos empresariais intervêm cada vez mais na política educacional, por meio de propostas que têm sido assumidas, pelos governos, com o falso objetivo de melhorar a qualidade das escolas públicas. Na prática, estas propostas representam a mercantilização da educação. Primeiro, eles difamam a educação pública. Depois, apresentam como alternativa que as escolas passem a funcionar de acordo com a lógica de trabalho e de gestão das empresas capitalistas”, descreveu.
Para Marta Vanelli, a crise atual e as dificuldades financeiras eram e sempre serão as desculpas para que os governantes, municipais ou estaduais, se recusem a reconhecer os direitos dos(as) educadores(as). Em especial o pagamento do Piso. “Em qualquer conjuntura, seja uma época de vacas gordas, ou magras, a desculpa é sempre a mesma: não tem dinheiro. Nunca a gente conseguiu arrancar os reajustes de graça. Por isso que nós pensamos que, dentro dessa conjuntura difícil, chamar nossa greve para os dias 15, 16 e 17 de março. Ela terá o caráter de contribuir, com um momento unificado, para poder avançar na negociação salarial. E agora, neste ano, temos mais um dia de mobilização: que é dia 31 de março, com a marcha em Brasília. Queremos, nesta data, levar 100 mil pessoas para Brasília. 20 mil só da Educação. Entre outras coisas, vamos protestar contra a reforma da previdência”, afirmou.
A professora Zineide Arndt, de Matinho, que integra a Comissão de Professores no município, afirmou que a participação na atividade veio em boa hora. “Precisamos nos atualizar sobre os principais problemas que a nossa categoria. Como somos, muitas vezes, de municípios pequenos, ficamos por fora do que está acontecendo nos centros de decisões”, avaliou. Para a professora das redes estadual e municipal, Lucimara Lima, de Goioxim, o momento é de aprendizado. “E de se aperfeiçoar para fazer o enfrentamento local, pelas nossas carreiras. É aqui que aprendemos a fazer a luta e, muitas vezes, surpreendemos os prefeitos e secretários com os quais negociamos, porque, muitas vezes, eles esperam que sejamos despreparados. E, com formações como estas, conseguimos nos colocar e negociar”, descreveu.