Que o governador Ratinho Jr é avesso à educação, algo que já sabíamos, tem repercutido nacionalmente desde o podcast Foro de Teresina, ligado à revista Piauí. Seus asseclas mais próximos também têm dado demonstração da desmedida deste descaso. O secretário de planejamento do atual governo, Guto Silva, é um deles.
Recentemente, repercutiu nas redes sociais uma entrevista do secretário ao programa Ponto de Vista da RedeT. A entrevista, em clima de amizade e sabujice, aconteceu no último sábado (15). Guto Silva, denunciado numa delação premiada por, supostamente, ter recebido R$ 100 mil como doação não declarada em 2014, quando concorria ao cargo de deputado estadual, propagou mentiras e acentuou os ataques à atuação política da APP-Sindicato contra o programa Parceiro da Escola.
Guto Silva equivoca-se ao dizer que a educação de Ratinho Jr não é ideológica, quando toda a movimentação é para promover uma educação com bases ideológicas empresariais, pautada na individualidade e na competição, formando estudantes para ser mão de obra ou empreendedores(as) de subsistência, deixando de lado a formação humanista, de livre expressão de pensamentos e de qualidade socialmente referenciada e que leve ao pleno desenvolvimento humano.
Ao falar do programa Parceiro da Escola, o secretário omite que a empresa embolsará, segundo os contratos vigente com as duas escolas já privatizadas, R$ 800,00 por estudante, os quais serão entregues para o lucro dos empresários e sem a fiscalização devida, facilitando desvio de verbas e a corrupção. De imediato, 12% deste valor é lucro ou taxas administrativas que vão direto para a conta da empresa. Não bastasse isso, quando ainda era Projeto na ALEP, o governo negou-se a incorporar ao texto uma emenda que não permitiria à escola a cobrança de valores, abrindo uma margem para interpretação de que isso ocorra em algum momento após privatizada.
Guto Silva reforça a intenção do governo em ampliar o programa, quando havia assumido o compromisso público de não privatizar outras escolas além das 204 escolas listadas, o que acentua o caráter autoritário e privatista deste governo. Ele ainda desqualifica e resume o trabalho dos(as) atuais diretores(as) comparando-o ao trabalho de um síndico de prédio, de alguém que está ali para “administrar uma lâmpada” (sic). Ainda, esta compreensão leva a interpretação de uma dicotomia entre o administrativo e o pedagógico, demonstrando o total desconhecimento da complexidade das atividades que as direções desenvolvem e da imbricada relação existente entre a ação administrativa e a pedagógica. Toda a ação administrativa na escola impacta o pedagógico. A própria Lei que institui o programa (22006/2024) evidencia esta relação, a exemplo, ao estabelecer a possibilidade de contratação de professores(as) que são os responsáveis pelo exercício pedagógico da docência.
O secretário ainda destaca que o Paraná de Ratinho Jr. alcançou os melhores índices do Ideb em 2021. Já denunciamos os indícios de irregularidades e de métodos duvidosos utilizados para obtenção destes resultados. Sabemos que alterações nas taxas de aprovação e controle de evasão afetam o quociente que gera o Ideb. Além disso, em 2021, o Ideb foi influenciado pela pandemia e pelo uso das tecnologias. O próprio Conselho Nacional de Educação recomendou que houvesse a aprovação nos anos de pandemia dos(as) estudantes.
Por fim, dentre todas as inconsistências e inverdades, Guto Silva diz algo que concordamos: que a pauta sindical não é a pauta do governo. E nisso concordamos. Historicamente, nunca nos alinhamos aos que querem vender o serviço público à iniciativa privada, cuja ação sempre foi de acomodação e assujeitamento das classes sociais. Entendemos o caráter público da educação e o quanto ela é necessária como um dos instrumentos de mobilidade social para as classes mais pobres do Brasil. Buscamos a promoção de uma educação onde os(as) estudantes tenham liberdade de aprender e professores(as) de ensinar, que possam se humanizar e se insurgir contra as formas opressoras e limitantes que os governos e o mercado impõem, como querem, agora, ao vender 204 escolas públicas no Paraná. Acreditamos e fazemos de tudo para que outra educação seja possível.
Direção Estadual da APP-Sindicato