A revolução não será televisionada: estudantes do Paraná se levantam contra aulas EAD do Novo Ensino Médio APP-Sindicato

A revolução não será televisionada: estudantes do Paraná se levantam contra aulas EAD do Novo Ensino Médio

Onda de indignação toma conta das escolas após governo Ratinho terceirizar cursos técnicos da rede estadual para a Unicesumar

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Na manhã do dia 11 de março, estudantes do Centro Estadual de Educação Profissional Pedro Boaretto Neto, de Cascavel, se recusaram a assistir às aulas dos cursos técnicos implantados na esteira do Novo Ensino Médio. Levaram seus cadernos e materiais de estudo para o refeitório e lá permaneceram.

O que parecia um ato de rebeldia isolado no oeste paranaense se espalhou pelo estado feito rastilho de pólvora. Em poucas semanas, protestos de secundaristas apoiados pelos pais e mães começaram a ser registrados em todas as regiões do estado. A APP-Sindicato mapeou ao menos mais de 30 escolas em pé de guerra até o fim de março.

A onda de indignação é uma resposta espontânea do alunado à política de terceirização do governo Ratinho Jr. e do secretário Renato Feder. Em três disciplinas do ensino profissionalizante, o Estado substituiu professores(as) da rede por aulas a distância ministradas pela Unicesumar, um dos maiores grupos educacionais privados do país.

No modelo, alunos(as) passam seis períodos – mais de cinco horas – apinhados em sala de aula assistindo a uma TV. Na tela, um(a) professor(a) da Unicesumar ministra aulas a dezenas de turmas ao mesmo tempo, sem interação direta com os(as) educandos(as). 

A “mediação” é realizada por monitores(as) com formação de Ensino Médio e nenhuma capacitação pedagógica. Estes(as) trabalhadores(as) precarizados(as) recebem bolsa-auxílio de R$ 640 por mês para 20h.

Desde o início de fevereiro a APP-Sindicato denuncia a farsa televisionada, um sumidouro de dinheiro público que desrespeita professores(as) e a comunidade escolar, precariza a educação e só beneficia a Unicesumar, que arrematou R$ 38,4 milhões para prestar o desserviço.

 



“TV eu tenho em casa, queremos professor!”

Com atos dentro e fora da escola, mobilização exemplar nas redes sociais, abaixo-assinado, pressão sobre políticos(as) e autoridades e a cobertura da mídia local, a experiência de Cascavel dobrou o governo Ratinho. A Secretaria da Educação se viu forçada a volta atrás para estancar o incêndio, mas apenas no CEEP.

No resto do estado, o modelo não foi revogado e ainda há 445 escolas reféns da gambiarra pedagógica. Mas o governo está acuado com a mobilização crescente em outras escolas e tenta agir para calar as manifestações, ameaçando educadores(as) e direções que apoiam os atos e censurando a participação de estudantes em audiências.

Coordenadores(as) da rede estadual que manifestam apoio aos protestos perdem a coordenação. Estudantes também relatam expulsão das salas da plataforma, em franco ataque ao direito à educação.


A criatividade dos(as) estudantes é estampada nos cartazes e palavras de ordem que se espalham pelas escolas do Paraná. Dizeres como “TV eu tenho em casa, queremos professor” e “Educação não é enganação”, contas no instagram para cada escola mobilizada, vídeos de tiktok e outras estratégias inspiram a luta e motivam novas escolas a aderir.

Dupla privatização

Em matéria publicada pela Agência Estadual de Notícias em janeiro, a Secretaria da Educação afirma que “a parceria se deve à dificuldade de encontrar profissionais habilitados para trabalhar os componentes específicos desses cursos técnicos”. Contudo, a mentira tem perna curta.

Desde 2019, professores(as) do colégio Antonio Francisco Lisboa, de Sarandi trabalharam para criar o curso técnico de Desenvolvimento de Sistemas, que substituiu o curso de Informática na nova matriz do Ensino Médio. Três anos dedicados a estudar, formular e implementar o currículo, incluindo consultas a universidades e empresas locais.

Quando chegou a distribuição de aulas, os(as) educadores(as) descobriram que foram usados pelo Estado. O golpe é resumido por uma professora QPM de outra cidade, cuja mensagem reproduzimos abaixo omitindo informações a pedido da fonte.

A Unicesumar privatizou a tecnologia de ensino desenvolvida por quem está em plenas condições de ministrar as aulas e recebe salários para tanto. Pior: nada garante que a universidade não utilizará a ementa elaborada pelos educadores(as) do Estado para lucrar vendendo cursos próprios.

Trata-se de um duplo desvio; o Estado entrega à iniciativa privada não apenas recursos financeiros dos cofres públicos, mas também a produção intelectual de servidores(as).

A terceirização da mão de obra na educação já se mostrou negativa no Paraná, quando em 2021 o Governo demitiu 9.700 funcionários(as) de escola e contratou 13 empresas para “fornecer” trabalhadores(as).

O resultado foi que o número de funcionários(as) de escola diminuiu, prejudicando a qualidade do serviço oferecido, e o gasto do Governo aumentou em R$ 10 milhões por ano. O gasto total chegou a R$ 422,796 milhões em 2021; quase meio bilhão de reais.

A farra das terceirizações também tem gerado problemas crônicos, como calotes em trabalhadores(as) e funcionários(as) recebendo menos de um salário mínimo.

APP-Sindicato trabalha para reverter o processo de terceirização em ambas em frentes e saúda a mobilização das comunidades escolares.

Como dizem os(as) estudantes, quem não luta pelo que quer aceita o que vier!

Confira as escolas mobilizadas e fortaleça a luta seguindo as redes sociais criadas pelos(as) estudantes:

1) Araucária

Colégio Julio Szymanski

2) Barracão

Colégio Estadual Dr. Mário Augusto Teixeira de Freitas
@fora_unicesumar

3) Cascavel

CEEP Pedro Boaretto
@naoas_aulaseadunicesumar

Colégio Estadual Marechal Castelo Branco

Colégio Estadual Jardim Consolata

4) Corbélia

Colégio Amâncio Moro
@naoaasaulasdaunicesumar

5) Coronel Vivida

Colégio Estadual Arnaldo Busato
@fora_unicesumar_ceab

6) Curitiba

Colégio Pedro Macedo
@foraunicesumar_

Colégio Avelino Antonio Vieira
@nao.queremos+aulasdaunicesumar

Colégio Estadual do Paraná

7) Dois Vizinhos

Colégio Estadual Leonardo da Vinci
@naoas_aulaseadunicesumardv

8) Francisco Beltrão

Colégio Estadual Mário de Andrade
@naoas_aulaseadunicesumarfb

9) Guaíra

Colégio Estadual Mendes Gonçalves

10) Guarapuava

Colégio Estadual Francisco Carneiro Martins
@1a_desenvolvimento_sistemas

11) Lapa

Colégio Agrícola
@naoasaulassincronasnoceepal

12) Laranjeiras do Sul

CEEP Naiana Babaresco de Souza

13) Londrina

Colégio Estadual Souza Naves
@nãoasaulasead_2022

14) Maringá

Colégio Estadual Branca da Mota Fernandes

15) Medianeira

Colégio Estadual João Manoel Mondrone
@fora.aulas.online

16) Paiçandu

Colégio Neide Bertasso Beraldo

17) Palotina

Colégio Santo Agostinho

18) Pato Branco

Colégio Estadual de Pato Branco

Colégio Estadual Carlos Gomes

19) Ponta Grossa

Colégio Presidente Kennedy
@naoa.saulaseadcepk

20) Rio Negro

Colégio Estadual Barão de Antonina
@foraunicesumar_rio_negro

21) Santo Antônio do Sudoeste

Colégio Estadual Humberto de Campos
@foraunicesumar_sas

22) São José dos Pinhais

Colégio Lindaura Ribeiro Lucas

23) Verê

Colégio Estadual Arnaldo Busato
@fora_ead_2022

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