Chega a ser indecoroso um governo vir a público divulgar os valores de supostos salários de professores(as) da rede estadual. A tentativa, no entanto, nada tem a ver com uma administração transparente. Pelo contrário, enquanto muitos(as) assessores do governador são contratados e pagos sem a menor prestação de contas à população, os(as) educadores(as) têm seus salários expostos. O governador quer, a todo custo, mostrar à população o quanto os(as) professores são bem remunerados e o quanto são ilegítimas as revindicações da categoria.
É essa arbitrariedade que vem acontecendo no Paraná. A ofensiva, orquestrada por parte do governador Beto Richa (PSDB), veio à publico novamente nesta semana ao divulgar na página do governo do Estado em uma rede social, o valor de 20 supersálarios de professores e professoras.
Ao mostrar valores de ganhos bem acima da média da maioria dos(as) trabalhadores(as) o governador do Estado fornece mais uma mostra que ele parece não ter perdoado a categoria do baque que sua imagem de bom político sofreu nos últimos meses. A APP-Sindicato, em defesa da categoria dos trabalhadores e trabalhadores da educação, reforça o seu compromisso com a verdade e com a transparência e vêm a público detalhar o caso dos supersalários.
Quanto realmente ganha um educador? – Um(a) professor(a) que ingressa no Estado para lecionar em salas de Ensino Fundamental e no Ensino Médio. recebe R$ 1.236,62 por 20 horas ou R$ 2.473,24 por 40 horas. Já , um advogado, por exemplo, que ingressa no Estado com mesmo grau de escolaridade recebe o valor de R$ 3.194,45 para trabalhar por 40 horas, ou seja, 22% a mais que um(a) professor(a). Veja a matéria detalhada sobre o salário de professores(as) e funcionários(as) aqui.
Os salários estão com valores manipulados. Foi o que aconteceu com o salário da professora Vera Lucia Werle Stadtlober, que aparece na lista com um salário de mais de R$ 27 mil reais, conforme divulgado no Portal da Transparência.
Há uma sequência de erros graves neste contracheque, a exemplo dos demais supersalários divulgados. O primeiro, é quanto aos rendimentos acumulados: o valor de R$ 15.035,53 refere-se a promoções e progressões de carreira acumuladas pagas com mais de 18 meses de atraso. Ou seja, a professora Vera teve direito a elevações na sua carreira, trabalhou por quase dois anos sem receber o que era seu por direito, recebeu em uma única vez. Detalhe importante: o governo pagou sem correção de juro. Faltou dinheiro aí, governador!
O segundo erro: a revisão do abono permanência, também acumulado e pago de uma só vez, sem correção refere-se ao tempo de serviço que excede aos 25 anos de carreira. A professora Vera trabalha há 28 anos no Estado e tem direito ao benefício. O terceiro valor que ‘engordou’ o contracheque no mês de maio foi o pagamento do quinquênio. A cada cinco anos de trabalho o(a) educador(a) tem direito ao reajuste de 5% sobre o salário-base.
A professora Vera é apenas um dos casos divulgados de maneira distorcida para convencer a sociedade dos altos salários na educação. O que deveria ser mostrado é omitido. A professora Vera possui graduação e pós-graduação. Trabalha há 28 anos nas salas de aula e seu salário base é de R$ 5.035,76, valor muito diferente dos 27 mil alardeados pelo governo.
“Os valores divulgados são manipulados, eles apresentam promoções, progressões, benefícios acumulados e não pagos. Foi a luta da categoria e as duas greves desse ano que garantiu o pagamento desses atrasados. É de uma covardia sem limite usar esses contracheques para justificar altos salários”, defende o presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Silva Leão.
No final desta manhã, a direção estadual da APP foi até o Ministério Público Estadual para apresentar formalmente uma a denúncia do ataque criminoso do governador Beto Richa sobre os salários dos(as) trabalhadores em Educação do Paraná.