Um dia inteiro de debates – incluindo exposições por uma das maiores especialistas, no Brasil, sobre vida e obra de Rosa Luxemburgo, a professora Isabel Loureiro – marcou este primeiro dia de atividade da segunda etapa do Programa de Formação da APP-Sindicato, atividade promovida pela Secretaria de Formação da entidade. De acordo com a secretária de Formação Janeslei Aparecida Albuquerque, o dia foi produtivo.
“Foi um dia muito rico. Cada etapa da formação é um grande esforço coletivo, pois muita gente se envolve para garantir a realização. E a professora Isabel Loureiro é uma pessoa que fala desta, e de outros intelectuais da revolução, com muita propriedade e conhecimento. E foi bem importante, pois estudamos, na primeira etapa, um pouco do Lênin, e a professora retoma este caminho com a Rosa Luxemburgo. Então, ela apresenta: qual a polêmica da Rosa com o Lênin? O que a história mostra desta polêmica? Descobrimos que em algumas coisas ela tinha razão, em outras ela estava errada, em outras o Lênin também cometeu erros”, explicou Janeslei.
De acordo com a secretária da APP, os revolucionários sempre procuraram fazer o melhor, pensar melhores táticas e estratégias para o seu tempo histórico. “Mas nem sempre se consegue dar conta de estar no olho do furacão, no momento que se está vivendo, com as transformações acontecendo e, ainda assim, dar conta das decisões e rumos que precisam ser definidas no mesmo momento”, alertou.
E o curso também apresentou outro lado de Rosa, além do fascinante – e impressionante – aspecto acadêmico e intelectual, para além da graduação e do doutorado em um tempo que as mulheres praticamente não freqüentavam universidade, para além da proficiência, apenas com 22 anos, de quatro idiomas. “As pessoas expressaram interesse em conhecer um pouco mais da vida destes personagens. Dados biográficos, formação intelectual, mas, também, vida pessoal. E pudemos ouvir a professora Isabel falar sobre uma mulher que não fez teorizações feministas, mas que foi, absolutamente, feminista na sua forma de intervir no mundo. De não aceitar em nenhum momento ser tratada como uma intelectual de segunda linha. Que não se intimidou de contestar velhos militantes marxistas, nem por serem antigos e respeitados, tão pouco por serem homens. Uma mulher que viveu com muita intensidade tudo o que fazia: os amores, a política, a militância”, destacou.
Livros – No período da noite será realizado, no auditório da APP, o lançamento de livros de Rosa Luxemburgo organizados pela professora Isabel Loureiro, da Unesp, e pelo Instituto Fundação Rosa Luxemburgo no Brasil. São três volumes, sendo que o terceiro reúne cartas escritas pela intelectual. “É uma noite cultura, que faz parte do programa de formação, não é um adendo. Teremos uma apresentação teatral, com textos das cartas de Rosa, que ela escreveu aos amantes, amigos, enfim, sua correspondência de anos. E muita gente só foi conhecer esse lado humano desta militante histórica a parti das cartas, que felizmente não foram destruídas. Muita gente que tinha visão dela como mulher dura e muito valente, pois ela também foi muito caluniada, pois exercia sem medo a liberdade de criticar, de pensar, de viver que chocou muita gente”, lembrou Janeslei.
Para a secretária da APP, o legado da pensadora é extenso. “Ela nos traz reflexões importantes sobre o papel dos movimentos e a importância das organizações sociais e da democracia. Ela foi uma intelectual militante revolucionária, que reafirmou os valores democráticos, do direito a divergência dentro do campo revolucionário. Ela não defendeu o direito da classe dominante e da opressora a ter voz. E ela sofreu as conseqüências disso que ela combatia, porque rosa foi fisicamente eliminada pelas divergências que explicitou. Ela era contra a política do terror e era radicalmente a favor do direito de divergir no campo revolucionário. E tudo que estudamos hoje nos apresenta uma mulher que não tinha medo da polêmica, não tinha medo de pensar diferente, e nem medo de errar. Que confiava muito no coletivo e nas decisões e construções coletivas”, analisou.