A avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb – do ano passado, 2011, aponta para uma melhora nos índices das séries iniciais e queda nos índices dos anos finais e na avaliação do Ensino Médio. Na mídia, o assunto vem sendo tratado, a exemplo dos anos anteriores, de forma a estabelecer uma visão de ranqueamento entre as instituições de ensino e entre os Estados. Para nós, trabalhadores da educação, esta não é a finalidade do Ideb. É preciso compreender que o sistema de avaliação nacional tem como objetivo central o diagnóstico da educação brasileira que subsidia a demanda de apoio técnico e financeiro aos municípios para a melhoria da qualidade do ensino.
Para nós, da APP-Sindicato, o que justifica o baixo desempenho, especialmente no Ensino Médio, são as condições impostas pela forma de organização social no modelo de sociedade capitalista.
Neste modelo, a crítica que se faz à escola e ao Ensino Médio é de que a organização escolar não dá conta de preparar o estudante para o mercado de trabalho. Ela, a escola, é pouco atrativa e descolada dos anseios da sociedade. Tais argumentos desconsideram, por exemplo, o processo histórico que faz com que os estudantes tenham de trabalhar o dia todo e estudar no período noturno justamente pelas condições impostas pela realidade social que vivenciam e por este mesmo mercado de trabalho que não lhe dá as condições de apoio e incentivo ao estudo, mas que lhe cobra desempenho.
Entendemos que há outros fatores que devem ser considerados na análise dos resultados do Ideb: as condições de realização do trabalho docente, questões de formação do profissional que atua na educação, avaliação rigorosa das instituições de ensino que formam professores, entre outras que demandam um constante repensar sobre as práticas educativas, com fins a uma formação integral e humanizada do sujeito – para além das demandas do mercado de trabalho.
Cair no discurso do ranqueamento apontando as escolas com melhores índices como aquelas que se debruçaram sobre seus programas de reforço escolar, assim como a mídia comercial tem repetidamente feito, como se esta fosse a solução dos problemas da educação, só faz aumentar a difusão de uma concepção equivocada dos objetivos que deve ter uma avaliação de larga escala.
Assim como no ambiente escolar defendemos uma avaliação diagnóstica e processual, também aqui fazemos a defesa de uma avaliação de sistema que tenha como objetivo central o diagnóstico das deficiências nas redes de ensino, e, a partir destes diagnósticos, a necessidade de se repensar as políticas educacionais voltadas para cada etapa da educação básica.
Repensar o modelo de escola, mas, também, o modelo de sociedade que queremos. Se tais modelos condizem com a superação da precariedade da educação ofertada em nosso país, quais políticas integradas podemos estabelecer para que o impacto da realidade social seja menos nocivo ao estudante que tem interesse – e o direito – de aprender, mas não possui as condições adequadas e necessárias para que isso aconteça?
Entendemos que o ser humano, mais que mãos que trabalham para fazer girar a roda do capitalismo, são pessoas, sujeitos de direitos a uma formação integral, integradora do corpo, do espírito, da mente. Que garanta a todos a condição de sujeito do conhecimento artístico e filosófico, científico e tecnológico.
É essa a perspectiva de educação pública que defendemos e lutamos para construir há 65 anos.