O sociólogo e cientista político Emir Sader – um dos maiores pensadores da área no Brasil – esteve na sede da APP-Sindicato nesta sexta-feira (19). Ele veio para o lançamento do livro “As armas da crítica: antologia dos pensamentos de esquerda”, organizado por ele e por Ivana Jinkings.
O livro é o primeiro de três volumes. Neste, trata de textos de autores clássicos como Lênin, Trotski, Rosa Luxemburgo, Gramsci, além de Marx e Engels. “Todos foram intelectuais e dirigentes revolucionários”, explica Emir, que se preocupa com a transformação propostas pelas teorias. “Teoria e prática hoje estão dissociadas na esquerda”, critica. Emir define o campo da esquerda hoje como os grupos que se opõe ao neoliberalismo.
O sociólogo reflete sobre diversas questões contemporâneas, logo, sua palestra tratou de assuntos amplos e diversos. Clique aqui e ouça o áudio completo da entrevista coletiva com Emir Sader, que aconteceu antes do lançamento do livro.
Trabalho
Homem trabalha para sobreviver e inconscientemente transforma o mundo. Baseado nisso, Marx organizou seu pensamento, explica o sociólogo: para que o homem se reconheça. “Era um grande didata. Publicava em bancas de jornais. Marx escreveu para que os homens possam se reconhecer como sujeito da própria história. É a única teoria que gerou um movimento político mundial.”
Esses conceitos escritos há mais de 150 anos, são facilmente reconhecíveis por qualquer trabalhador da atualidade, que se vê impedido de refletir, esmagado pela rotina de trabalho. Por isso esses clássicos mantêm-se tão atuais.
Sobre a questão do trabalho, para Sader, é preciso repensar o que isso significa entre os jovens nas periferias da cidades que são a maior parte da população. Ele pondera que ainda não há teoria que dê conta desta realidade e que também não há políticas para a juventude.
“Sexo, drogas e rock´n roll, esta é política para a juventude”, brinca Emir, que explica: sexo implica em discutir aborto, apropriação do próprio corpo. Drogas significa debater a descriminalização. Rock n´roll é cultura, direitos autorais na internet, etc.
Capitalismo e crise
Os autores escolhidos para o livro vêm sendo recuperados mediante a crise do capitalismo. Emir explica que o capitalismo era sinônimo de progresso e bem-estar. Nunca um sistema econômico transformou a sociedade em tão pouco tempo, com as cidades, indústrias, etc. O problema é que não se distribuiu renda para todos consumirem. Desde 2008 se comprovou que a crise é inevitável neste sistema. “É um momento mágico de compreensão da irracionalidade do capitalismo”, afirma. “Capitalismo é feito para acumular riqueza, principalmente através da especulação. Hoje 90% dos movimentos econômicos no mundo não produzem emprego nem bens”, explana.
Educação
Para explicar sua reflexão sobre educação, Emir Sader cita Paulo Freire “A educação não salva. Ela forma pessoas que podem transformar o mundo”. “Se só educação transformasse, a Europa não estaria nesta crise”, completa.
O problema para ele não é o acesso, mas a qualidade da educação nos anos básicos.
Emir Sader
Emir Sader é sociólogo e cientista político. Atualmente, é professor de sociologia da UERJ. Um dos maiores pensadores da esquerda no Brasil. Foi condenado à prisão durante a ditadura militar e se exilou no Chile. É autor de uma vasta obra bibliográfica, composta por 96 livros (entre autoria, co-autoria e organização), 154 publicações como capítulos de livros, 243 em periódicos e 736 em jornais de notícias e revistas. Foi ainda o organizador (com Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile), autor e principal idealizador da “Latinoamericana: Enciclopédia Contemporânea de América Latina e do Caribe”, vencedora do prêmio Jabuti de melhor livro do ano de não-ficção em 2007.