Foi aberto hoje (16) na sede estadual da APP-Sindicato, em Curitiba, o II Seminário Paranaense sobre Medicalização da Educação e da Sociedade. O encontro, promovido pelo Unicentro (Departamento de Psicologia e grupos de pesquisa Processo de Subjetivação e Estudos Culturais e Psicologia da Saúde), do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, Núcleo de Irati e da Fundação Araucária, debate “das diferenças à inclusão pela educação e saúde”. O encontro prossegue amanhã e na quinta-feira na Unicentro, campus Irati-PR.
Na abertura, a secretária de Formação da APP, professora Janeslei Albuquerque, saudou os participantes ressaltando a importância do tema e indicou que a APP deseja integrar esta discussão, que deve ser trazida aos fóruns da entidade. “Além de um processo de criminalização dos comportamentos juvenis e da transgressão escolar, também as dificuldades e as questões que são próprias do processo de aprendizagem passam a ser tratados como doença e medicalizadas”, disse.
Floreal Marim Botias Júnior, secretário de Saúde e Segurança do Trabalhador, lembrou na abertura o assustador número de venda de medicamentos à base de metilfenidato (o principal deles a Ritalina), administrado supostamente para o controle de Transtorno do Déficit de Atenção e hiperatividade (TDAH), que saltou de 71 mil caixas no ano 2000 para mais de 2 milhões em 2010. “Este ‘pequeno’ crescimento da utilização deste medicamento já nos alerta” disse Botias, ao ilustrar o histórico da luta contra a medicalização desnecessária, que já logrou, no Uruguai, uma intervenção da Organização Mundial da Saúde, para conter os riscos do uso indevido.
Orgânico – Ainda pela manhã, a fonoaudióloga Ana Paula Berberian apresentou casos clínicos e fez uma análise de situações de crianças com dislexia ou distúrbios de aprendizagem. Segundo ela, há a ideia predominante de que o domínio da leitura e da escrita depende de habilidades orgânicas corporais ligadas à percepção auditiva, visual e motora. “Caso a criança não avance há um problema orgânico intrínseco a ela; essa é uma explicação equivocada, pois este processo não é restrito”, disse Ana Paula, para quem a superação de tal pensamento requer conscientização, das famílias, profissionais da saúde, professores e sociedade em geral.
O professor José Alexandre de Lucca, do Núcleo Irati do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, também criticou esta transformação de situações que são da ordem do cotidiano – institucionais, sociais e políticas – num diagnóstico de condição orgânica individual. De Lucca exemplificou com a situação de uma criança que esteja sofrendo abuso, ou algum sofrimento na família ou na escola e é encaminhada para um médico, de quem obtém um diagnóstico de hiperatividade ou transtorno opositor desafiador. “Não se faz uma leitura mais ampla da história e do contexto da criança”, disse.
A programação completa do evento pode ser vista aqui.