A professora Janeslei Aparecida Albuquerque, secretária de Formação da entidade, relembra que, no primeiro momento, o Programa focou a concepção de Estado e a Conferência Nacional de Educação (Conae) como uma forma de construir política. De acordo com ela, o objetivo foi promover um debate preparatório que capacitasse os participantes da Formação uma atuação mais qualificada nas etapas da Conae.
Nesta segunda etapa, explica Janeslei, o debate traz à tona a relação entre o Estado brasileiro e a América Latina. “Tudo o que acontece no Brasil, a direção que país toma no sentido das suas políticas, da sua concepção de Estado, no fortalecimento dos movimentos sociais e das instâncias de representação da sociedade, refletem nos demais países latino-americanos. E como isto ocorre? Qual a importância desse fenômeno? São algumas questões que este debate pretende responder”, explica.
Conjuntura – No período da manhã, o representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na Confederação Sindical das Américas (CSA), Rafael Freire, em conjunto com o deputado federal e secretário Geral Brasileiro do Parlasul, Dr. Rosinha, fizeram a análise da conjuntura geopolítica-política internacional da (e na) América Latina. Integraram esta mesa o secretário de Finanças da APP, professor Miguel Baez, e a professora Janeslei.
Nas suas falas, Freire e Rosinhas apresentaram dados de renda, riqueza, produção, da relação do PIB de cada nação, as realidades populacionais, a diversidade de línguas, bem como ajudaram a traçar um olhar sobre as políticas de integração que o Brasil tem adotado e que, de acordo com eles, são muito importantes. Freire também destacou o papel do movimento sindical, em especial da CUT, no fortalecimento da ampla agenda de reivindicações populares que questionam a ordem econômica e política mundial e o seu caráter predatório, do qual resulta a exclusão social em vários países da América Latina.
Já o deputado Dr. Rosinha esclarece o papel do Parlamento do Mercosul (Parlasul) e como ele auxilia na superação do déficit democrático dentro do Mercosul. “O Parlamento foi criado por duas razões: uma delas era dar maior institucionalidade ao Mercosul. A segunda era superar o déficit democrático. Hoje temos o Mercosul consolidado como um dos maiores blocos econômicos do mundo, mas sem nenhuma participação da sociedade civil no debate sobre seus rumos. O Parlamento tem permitido que a sociedade civil organizada tenha um local para discutir os problemas e sugerir”, esclarece.
Para Janeslei, é fundamental a construção de um ‘olhar’ que mostre e a importância geopolítica do Brasil na América Latina, bem com debater as políticas educacionais no continente. “Qual a importância do nosso país, e das políticas educacionais que desenvolvemos, para outras nações? Qual importância das políticas educacionais que estão sendo desenvolvidas, por exemplo, na Argentina – que superou o analfabetismo no século XIX – ou no Uruguai e Chile? O que fizemos que pode inspirar outros países e que experiências de fora podem nos inspirar? Quanto mais integração entre nossos povos, melhor que possamos superar a história da América Latina como anexo dos Estados Unidos da América”, avalia.
Movimento pedagógico – Antes do debate pedagógico da tarde, o repórter fotográfico Joka Madruga apresentou suas reflexões sobre a perseguição aos sindicalistas na Guatemala, um projeto apoiado pela APP, e que contou também com os jornalistas Leonardo Severo, Monica Severo e Caio Plesmann. Intitulado ‘A luta dos trabalhadores para se organizarem na terra dos mais’, a apresentação tratou da viagem realizada àquele país pela Rede de Comunicação Colaborativa ComunicaSul, no período de 29 de junho e 7 de julho deste ano. De acordo com Madruga, o objetivo é dar visibilidade à onda de assassinatos de lideranças dos trabalhadores, à repressão e à perseguição às suas entidades. Nos últimos sete anos, 57 sindicalistas foram assassinados. Seis apenas em 2013.
Em seguida, o debate se concentrou nas explanações da professora Fátima Aparecida da Silva, secretária de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNET), da professora doutora Francis Mary Guimarães Nogueira, da Unioeste (PR), da professora Marlei Fernandes de Carvalho, presidenta da APP e integrante do Movimento Educacional e Ação Sindical no Paraná na relação com a América Latina e, por fim, do secretário nacional de Juventude da CUT, Alfredo Santos Junior. A mesa também contou com a presença dos diretores da APP Walkíria Mazeto (secretária Educacional) e José Valdivino de Moraes (secretário de Formação da APP e secretário adjunto da CNTE).
Fátima falou sobre o contexto do movimento dos trabalhadores da educação na América Latina, o que é a Internacional Educação (IE) na América Latina, quais os principais pontos de lutas que estes países têm nas questões salariais dos profissionais, nas questões pedagógicas, na democratização dos Estados e na inversão da educação pública nesses países. A representante da CNTE também explicou aos presentes o que é o Movimento Pedagógico Latino-americano, criado em 2011. “É uma iniciativa do conjunto dos os sindicatos da IE que quer por pautar os governos dos países para além da questão salarial: a questão pedagógica. Queremos debater porque ensinar e o que se ensinar. Queremos ouvir as pessoas protagonistas na educação, os educadores, os estudantes e a comunidade”, afirma.
A professora doutora Francis Mary Guimarães Nogueira iniciou sua fala elogiando o Programa de Formação do sindicato. “A APP resiste e persiste em um ponto fundamental: a formação da sua categoria”, avaliou. Em seguida, ela fez uma breve apreciação de como o sistema bolivariano foi sendo criado e implantado na Venezuela, bem como qual a repercussão disso para a o próprio país. “A Venezuela passou a ser referência educacional. Primeiro porque, em 2005, ela foi considerada pela Unesco como país livre de analfabetismo. Em dois anos eles alfabetizaram 2,5 milhões de pessoas com a ajuda de Cuba. Depois pelo processo, pois o Estado não olhou só a educação, mas todo o espectro de políticas sociais, e construiu condições concretas de uma politização”, explica.