Nesta sexta-feira (08) e sábado (09) aconteceu, na sede estadual da APP-Sindicato, em Curitiba, a segunda etapa estadual do seminário “O currículo e suas praticas”. A atividade foi organizada pela Secretaria Educacional da entidade e reuniu educadores(as) de várias partes do Estado. Os objetivos foram: discutir e reafirmar a concepção de currículo defendida pelos(as) trabalhadores(as), levantar qual a realidade vivida nas escolas da rede estadual de ensino paranaense e, neste último momento, traçar ações e estratégias para enfrentar a disputa ideológica nas escolas. “O modelo de educação defendido por este governo não é o nosso”, ressaltou a secretária Educacional da APP, professora Walkíria Olegário Mazeto.
Após horas de debate, os(as) educadores(as) decidiram pela criação de um Grupo de Trabalho (GT). O mesmo será formado por um representante de cada um dos 29 núcleos sindicais da APP, bem como pelo GT já existente na sede estadual (formado integrantes das várias secretarias da entidade) e estudantes. O grupo, que deverá se reunir ainda este mês, é que traçar a linha de intervenção da categoria ainda este final de ano. Leia, abaixo, a entrevista com a professora Walkíria Mazeto, que fala sobre a relevância do tema no cotidiano das escolas, bem como a necessidade da comunidade escolar se apoderar do mesmo.
Portal da APP – A discussão sobre currículo foi retomado nesta segunda etapa estadual (a primeira foi em setembro) com quais objetivos?
Walkíria Mazeto – Tivemos nesta última etapa do seminário, a terceira fase de uma atividade que iniciamos este ano, a conclusão dos trabalhos que envolveram pessoas de todo o Estado. Na primeira etapa, trouxemos os princípios epistemológicos, os problemas que existem e a necessidade de ampliar o debate para as escolas. Isto porque detectamos que o método adotado até então não deu conta de levar este debate a todos, no chão da escola. Na segunda fase, as escolas organizadas através dos núcleos sindicais da APP discutiram e apontaram suas questões. Nesta última etapa, a segunda estadual, analisamos o que chegou dos núcleos sindicais e pensamos em como vamos nos organizar daqui para frente. O que priorizar no debate, o que é necessário e com quem nós faremos isso. Nestes dois dias tivemos a reafirmação de alguns dos nossos princípios, que traz o trabalho como princípio educativo, uma reflexão sobre a escola e sua organização, de como o currículo está lá. Também foram postos alguns desafios nacionais que precisam ser levados em consideração nos debates daqui pra frente, enfim, traçamos os cenários nacional e estadual da educação. Também fizemos uma análise do que chegou das escolas, onde estão as deficiências, o que há de avanço e o que fazemos frente a esta realidade.
Portal da APP – De forma geral, o que os núcleos trouxeram dos debates com as escolas?
WM – Houve relatos de problemas, de alguns pontos que precisam ser reafirmados – a exemplo de defesas históricas que são feitas pela APP há anos, mas que, aparentemente, são desconhecidos por algumas escolas. Então, precisamos reafirmar nossas posições políticas, rever algumas e avançar para outras. Especialmente neste momento de grande debate sobre educação integral, quando se tem políticas nacionais que apresentam outro arranjo curricular, de tempos e espaços na escola. Precisamos pensar em como nos posicionamos com relação a isso. Em como organizamos nossa escolas para essas realidades.
Portal da APP – É uma demanda de grandes proporções e impactos.
WM – Sim. Por isto a necessidade de traçarmos as linhas sobre como atuar, onde atuar e com quem atuar. Chegamos ao consenso de um grupo de trabalho (GT) estadual, com representação dos 29 núcleos sindicais, mais o GT de estudo e trabalho que já compõe a direção estadual. Também fizemos a sugestão de que tenha representação estudantil, pois precisamos que este debate vá para além dos trabalhadores e trabalhadoras da educação. Assim, vamos entrar em contato com o movimento estudantil com o qual já trabalhamos e vamos convidar para que eles passem a compor, e pensem, maneiras para que este debate não fique só entre professores e funcionários. Pois nós também temos a estratégia de ampliar a defesa da escola pública, de tudo aquilo que defendemos, para o conjunto dos estudantes. E com a entrada deles as estratégias são outras. A conexão com os jovens será através dos congressos? Como e qual material será destinado aos alunos? No dia em que a escola parar para fazer o debate com os educadores e educadoras também haverá debate com os estudantes? Quem levará este debate, o movimento estudantil? Enfim, são várias coisas que precisam ser pensadas, pois precisa envolver todo um conjunto na defesa da escola pública.
Portal da APP – E quando o GT começa a funcionar?
WM – Então, retiramos o indicativo do GT e a Secretaria Educacional encaminhará, durante esta semana (de 11 a 14 de novembro) toda essa sistematização deste seminário. Os núcleos, por sua vez, indicarão quais os nomes que irão compor o grupo. E nós nos reuniremos ainda este mês. Isso para que tenhamos as linhas de ações de intervenção, ainda este ano, nas pautas que temos de fechamento do período letivo, além da programação do início do próximo ano letivo. Também temos que pensar a nossa interferência na Semana Pedagógica, daí mais efetiva com os coletivos nos NSs que possam congregar pedagogos e outros trabalhadores e trabalhadoras, para que possamos realmente ter o debate feito lá, na escola. Vamos definir todas as estratégias de ação, quais temas serão prioritários, por onde começar, com quem começar, quem nos ajudará. Isto o GT definirá ao longo dos seus trabalhos, começando ainda este mês.
Portal da APP – Qual a importância deste debate para a mudança da realidade nas escolas?
WM – Temos que puxar esta discussão porque estamos vendo a fragilidade das escolas no enfretamento das políticas, do governo estadual, que estão chegando. Chega um programa, na unidade, por mais que reafirmemos a posição da APP, que o enfrentamento precisa ser feito, vemos que há escolas que se sentem insegura de ir para o embate. Elas não têm claro: qual o projeto que defendemos? Qual a diferença que tem entre o projeto da nossa categoria e o projeto que chega às escolas? E é primordial ver que existe uma enorme diferença daquilo que nós, trabalhadores e trabalhadoras, fazemos defesa para a escola pública e o que este governo defende. Então, esta iniciativa tem efetividade e materialidade na escola. Os debates serão para além de teóricos. Servirão também para dizer: ‘É por isso que não queremos o PPA na escola. Não queremos o PAD na escola. É por isso que todas essas políticas, e programas, não são benéficos para a qualidade da educação que defendemos’. É um conhecimento que precisa ser disseminado para que as pessoas tenham, teoricamente, a compreensão do que defendemos e, assim, estejam prontas para fazer o enfrentamento, pois ainda temos um ano deste governo. E modelo de educação defendido por este governo não nos interessa. Precisamos desvelar isto nas escolas. As pessoas precisam compreender o que estamos enfrentando e que desmonte da escola pública está embutido neste modelo atual.