Quem passou pelo Tribunal de Justiça (TJ), no Centro Cívico, ou pela Associação Comercial do Paraná (ACP), na rua XV de Novembro, na tarde desta terça-feira (12) pode ouvir a voz da indignação contra a suspensão do feriado da Consciência Negra em Curitiba.
No dia 4, deste mês, o TJ concedeu liminar ao pedido feito pela ACP e pelo Sindicato da Industria e Construção Civil no Estado do Paraná (SINDUSCON) que, alegando prejuízo ao comércio local, solicitou o cancelamento do feriado municipal do próximo dia 20, data em que seria comemorada uma das mais recentes conquistas do movimento negro: um dia de reflexão sobre a escravização, o preconceito racial e de reconhecimento da resistência e contribuição negra .
Representantes de mais de 20 entidades do movimento social, incluindo ONGs e sindicatos, como a APP organizaram um ato público neste dia 12, em frente às sedes destes dois órgãos que entram na justiça alegando fundamentos econômicos para cancelar o feriado em Curitiba. A APP e o movimento negro foram às ruas da capital mostrar à população que o dia em que Zumbi dos Palmares foi morto, há 125 anos, é uma data que não deve ser esquecida.
A professora Almira Maria Maciel participou do ato, que começou às 13h em frente ao TJ, e acredita que a ação vai além de buscar a efetivação do feriado. “Com esta manifestação, estamos desconstruindo alguns mitos, como por exemplo o mito da democracia racial e da Curitiba européia. Precisamos dizer e mostrar que somos contra aos atos impostos por uma elite que desconsidera os direitos e a história do povo negro”, argumenta a professora.
Na mesma calçada em frente ao tribunal, esteva o adolescente Henrique Lisdoa, de 16 anos. Estudante do segundo ano do Ensino Médio, da rede particular, Henrique conta porque participou da manifestação. “Acho que a nossa sociedade é racista. O pessoal da minha turma não tem essa consciência, são poucos os que veem que Curitiba é uma cidade racista. Estou aqui para conhecer a história do povo negro e para combater o racismo que eu percebo”, conta o estudante pouco antes que um grupo musical começou a tocar com atabaques e agogôs canções enaltecendo a luta dos negros e negras no Brasil. (Clique no botão abaixo e veja a letra, composta pelo artista Carlão Democrata).
A construção do feriado do dia 20 de novembro é uma forma de promover a valorização da cultura afrodescendente, por meio do conhecimento da história, da cultura em suas diferentes formas de manifestação. “Em um ato político e cultural, mostramos nossa indignação em frente ao Tribunal de Justiça do Paraná e da Associação Comercial do Paraná. Foi muito bonito ver lideranças históricas e a juventude negra irmanadas na defesa do feriado de 20 de novembro.Com certeza, a comunidade negra de Curitiba deu o seu recado!”, comemora, com orgulho, o secretário de Imprensa da APP, professor Luiz Carlos Paixão da Rocha ao analisar o ato que luta pela memória daqueles(as) que foram destituídos de seu país, de suas famílias e de sua honra, para trabalhar sem nenhuma restituição pelo seu esforço. A APP luta pela memória dos nossos heróis e heroínas negros e negras.