As ruas que interligam o colégio Estadual Gelvira Corrêa Pacheco até o parque São Lourenço, em Curitiba, foram tomadas, na noite desta última quinta-feira (13), por uma manifestação pública semelhante às realizadas no país nos últimos seis meses.
A música “Que país é esse?” sonorizava as palavras de ordem e indicava a indignação contra a desigualdade. Já os cartazes, refletiam o clamor de pais, mães, alunos e professores para um dos aspectos mais básicos de estruturação de uma sociedade: a Educação. No trajeto, que ligou o bairro Barreirinha ao São Lourenço em quase uma hora de caminhada, os manifestantes da comunidade escolar Gelvira Corrêa Pacheco pediam a atenção do governo estadual do Paraná e da comunidade para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
O governo do Paraná e a normativa 008/13 – No final do ano passado, o governo estadual divulgou uma instrução normativa – protocolada com o número 008/2013 – em que determina uma série de pré-requisitos para que escolas, como o Gelvira Corrêa Pacheco, cumpram para garantirem a oferta dessa modalidade de ensino. O professor Luiz Antônio Vitao explica “essa instrução diz, por exemplo, que é preciso ter, no mínimo, 20 alunos matriculados e regulares para que a turma seja aberta. A modalidade EJA, é muito específica, são alunos que trabalham ou que estão há algum tempo afastado das escolas. Temos trabalhadores que não conseguem liberação antes das 20 horas, outros que trabalham em turnos e escalas. Aqui no Gelvira, temos quase 200 alunos por ano na EJA e o governo está dificultando a matrícula e o estudo desses jovens do bairro”, exemplifica o professor ao comentar uma das disposições da instrução que regulamenta a listagem de frequência e permanência em sala. Para o educador, a medida dificulta o acesso aos estudos.
A passeata foi também reflexo da indignação de toda a categoria com a decisão do governo. O dirigente sindical da APP, professor Eduardo Gonçalves, reforça a postura do Sindicato diante da medida. “A normativa dificulta, e em alguns casos até impossibilita que o jovem trabalhador tenha acesso à escola. A APP trabalha para que a resolução seja revogada por completo, pois caso ela seja mantida com as características que se tem atualmente, fará com que os jovens tenham que se deslocar para a região central da cidade, o que colaborará para o afastamento desses trabalhadores da sala de aula”, enfatiza o dirigente ao mencionar uma das outras deliberações da normativa 008/13: a centralização da modalidade EJA nos Centros de Educação Básica de Jovens e Adultos, os Cebejas. “Queremos uma EJA que contemple as especificidades do jovem trabalhador”, complementa Gonçalves ao defender que as escolas dos bairros continuem a ter o ensino básico, fundamental e médio garantido aos jovens e adultos.
A passeata – O trajeto longo não desanimou os manifestantes, em sua maioria jovens que buscam o direito à permanência na escola. O estudante da EJA Giovane Siqueira Ferreira segurava um cartaz com a inscrição “Se a educação é prioridade, não se faz essa barbaridade” quando contou o porquê da sua participação na caminhada. “Estamos aqui hoje, para dizer ao governador que nós queremos estudar e o governo está tirando isso da gente”, comentou ao detalhar que se não houver o mínimo dos 20 alunos estipulados pela normativa para a abertura da turma da sua série na EJA, ele provavelmente, não conseguirá conciliar a rotina de trabalho com o estudo em um bairro longe de casa.
A marcha terminou por volta das 21 horas da noite, horário em que muitos dos estudantes presentes gostariam de estar em uma sala de aula no colégio que lhes possibilitassem o retorno com segurança e rapidez para casa.
A APP trabalha, desde o final do ano passado, para que a instrução 008/2013 seja revogada e estará presente nas manifestações em repúdio à normativa. Neste ano, houve duas reuniões em que o Sindicato foi até a Secretaria de Educação solicitar o cancelamento da medida. A APP também busca ajuda dos deputados estaduais para que se posicionem favoráveis à Educação e haverá, ainda no primeiro trimestre do ano, uma audiência pública para tratar do tema.
O Sindicato orienta que a população manifeste seu apoio à EJA no abaixo-assinado (disponível aqui). O documento, depois de preenchido, precisa ser encaminhado ao Núcleo Sindical da APP. (Confira aqui a lista com os contatos da APP em todo Estado). Afinal, esta luta é de todos que, como entoava a música, “ (…)acreditam no futuro da nação”.