O Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, no Jardim Maria Luiza, em Cascavel, foi ‘rebatizado’ nesta terça-feira (18) com o nome de Edson Luis de Lima Souto, estudante assassinado há 46 anos durante os chamados ‘anos de chumbo’. A ação simbólica é alusiva aos 50 anos do golpe que instaurou o regime militar no Brasil em 31 de março de 1964 e faz parte dos atos que antecedem a audiência pública da Comissão Estadual da Verdade em Cascavel, que será realizada nos dias 20 e 21.
Ainda que não tenha validade legal para mudança de nome, uma vez que para isso é preciso uma legislação ou decreto governamental, o ato no colégio foi uma tentativa de reescrever a história, denunciando àqueles que foram agentes de um dos momentos mais tristes da história do país, como explica Élio Ribeiro Junior, presidente da ACES (Associação Cascavelense dos Estudantes Secundaristas). “É um ato de repúdio contra um ditador fascista que nunca pagou pelos crimes que cometeu e uma homenagem ao Edson Luis, um símbolo da resistência contra a ditadura”, explica Juninho, como é conhecido o presidente da entidade.
Edson Luis tinha a mesma idade que Juninho, 18, quando foi morto, e assim como o cascavelense, também atuava em uma entidade estudantil municipal. O assassinato do secundarista, em 28 de março de 1968, durante conflito entre estudantes e policiais no restaurante Calabouço, no centro do Rio de Janeiro, foi um dos marcos na luta contra a ditadura militar, causando grande comoção pública. O também estudante Benedito Frazão, também foi atingido na ocasião e morreu no hospital.
Após ser morto, Edson Luis teve seu corpo levado por estudantes até a Assembléia Legislativa do RJ, onde foi velado. Mais de 50 mil pessoas compareceram ao enterro, entoando gritos de ordem contra o governo e a violência e uma delas se espalhou nas faixas, cartazes e na boca do povo carioca: “Mataram um estudante. Podia ser seu filho!””. O velório foi cercado pela PM, agentes do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e militares que provocavam os manifestantes com bombas de gás.
Costa e Silva – O marechal Artur da Costa e Silva, militar e político da Arena (Aliança Renovadora Nacional), foi o segundo presidente do regime militar, no período entre 5 de março de 1967 e 31 de agosto de 1969. Seu governo iniciou a fase mais dura do regime ditatorial, à qual o general Emílio Garrastazu Médici, seu sucessor, deu continuidade. Sob o governo Costa e Silva foi promulgado o AI-5, que lhe deu poderes para fechar o Congresso Nacional, cassar políticos e institucionalizar a repressão, seja por meio de censura a órgãos de comunicação ou pela tortura de militantes.
Além do Costa e Silva – no Jardim Maria Luiza – outra escola em Cascavel leva o nome de um ditador, o Colégio Estadual Castelo Branco, no Parque São Paulo, em alusão ao primeiro presidente do regime, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Segundo levantamento do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), os 34 presidentes da história do Brasil dão nome a 3.135 escolas do ensino básico na rede pública. Destas, 976 unidades tem nomes de presidentes da ditadura militar (1964 a 1985).
Bahia –Em fevereiro deste ano, o Governo da Bahia mudou oficialmente o nome do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici para Carlos Marighella. A mudança foi motivada após solicitação de alunos, ex-alunos, professores, pais e responsáveis, além da diretoria da unidade.
O grupo realizou uma votação em novembro de 2013 entre os envolvidos com a instituição e a partir da votação, foi encaminhado um documento oficial para que a mudança fosse efetivada. Durante a votação o nome do militante e ex-deputado constituinte baiano Carlos Marighella teve 406 votos e venceu o do geógrafo Milton Santos, que obteve 128. Houve ainda, 27 votos brancos e 25 nulos.
Fonte: Júlio Carignano