Trabalhadores(as) se unem por uma educação de qualidade

Trabalhadores(as) se unem por uma educação de qualidade


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Hoje, 19 de março, foi mais um dia histórico para os educadores e educadoras do Paraná. Definida em assembleia da categoria, os três dias da greve proposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) no Estado foram marcados por dois dias (17 e 18) de mobilizações e o terceiro de paralisação geral das aulas com passeata em Curitiba.

A concentração foi na Praça Santos Andrade e os cerca de 10 mil trabalhadores(as), seguiram em caminhada até o Centro Cívico, onde uma comissão se reuniu com o secretario da educação Flávio Arns e sua equipe para cobrar respostas concretas do governo, tendo em vista a extensa pauta de reivindicações da categoria. A presidenta da APP-Sindicato, professora Marlei Fernandes de Carvalho, em sua fala de acolhida aos educadores presentes na mobilização relembrou alguns pontos fundamentais a serem exigidos na reunião.

“Nós estamos coletivamente em luta, por melhoria das condições de trabalho, por atrasados que todos os servidores têm. Só na educação temos 100 milhões em atrasados desde o ano passado. Nossa pauta é longa, mas o governo já conhece bem. O piso está na pauta, o reajuste dos funcionários está na pauta, a falta de merenda na escola está na pauta, a dobra de padrão está na pauta, a hora-atividade que o governo nos ameaça todo dia na escola, está na pauta e é um direito nosso. Os cortes recentes, o corte no auxílio transporte, nós queremos respostas hoje do governo e mais o porte de escola, que não é porte, é corte. Nós não sairemos da mesa de negociação se o governo não retroagir. Nós precisamos sim é de mais funcionários. Ousemos lutar!”

Pauta única – Sindicatos de outras categorias, movimento estudantil e movimentos sociais também se uniram à mobilização. Segundo o bioquímico Muriel Padovani que segurava uma faixa do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino Superior do Oeste do Paraná (Sintoeste), o novo modelo de saúde precisa se tornar realidade, “nós estamos juntos pelo FES [Fórum das Entidades Sindicais], pela data base, ParanaPrevidência e contra a privatização da saúde”, explica. O Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino de Maringá (Sintemmar) também esteve presente, segundo o diretor de finanças Ricardo Giovanini, vieram para somar na luta, “nós estamos na luta junto a APP-Sindicato, somos companheiros de luta. Nossa principal bandeira é contra o banco de horas que ia ser aprovado hoje na Assembleia e a pauta do FES, principalmente o novo modelo de saúde.”

O vice-presidente da União Paranaense dos Estudantes Wallington Gerolani explica o porquê de também fazerem parte da mobilização. “É um ato em defesa da escola pública, da educação de qualidade para os estudantes. A valorização do profissional de educação é fundamental para uma educação de qualidade. Nós somos parceiros da APP-Sindicato e a luta é de todos”. Para o militante do Levante Popular da Juventude Alexandre Boing não existe uma educação de qualidade sem professores de qualidade, “para nós é muito claro que se a gente não garantir uma remuneração decente para os professores e condições dignas de trabalho os estudantes também não conseguirão estudar bem. Para construir um verdadeiro Projeto Popular para a Educação, nós precisamos estar juntos com os educadores.”

Durante o percurso até o Palácio Iguaçu os(as) educadores(as) da rede estadual de ensino encontraram-se com a manifestação do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc) que desde ontem (18), 90% dos Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis) de Curitiba estão parados e mobilizados para cobrar do prefeito Gustavo Fruet,  isonomia com o magistério, redução da jornada de trabalho e valorização da educação infantil.

Realidade – O professor de geografia Alessandro Raiduque do Colégio Estadual Pinheiro do Paraná e o professor de ciências Flávio Domingues do Colégio Estadual Santo Antonio que vieram à passeata de bicicleta e a empurraram por todo o trajeto disseram que a questão da hora-atividade é urgente, “eu vi na minha escola que houve um aumento na qualidade de ensino do professor, com esses dias de hora-atividade pra valer, porque temos mais tempo para estudar e para preparar as aulas, como também um tempo para descanso mental que ajuda bastante”, conta Flávio. O intérprete de libras em educação especial Hélio Fernando Moreno do Colégio Professor Francisco Zardo, deixa claro: “a minha principal bandeira hoje é respeito pelo professor de educação profissional e especial”. Já o professor de geografia contratado pelo regime PSS, Vagner Luiz Ribeiro não aguenta mais o descaso do governo com o PSS, “nós não recebemos salário, há um descaso com cronograma do PSS, sem contrato definido, sem direito a plano de saúde e tudo mais”. O agente educacional II, Diego Valdez conta que na sua escola em Foz do Iguaçu faltam agentes I e II, “a principal motivação de todos os funcionários que estão aqui hoje é principalmente pelo corte de funcionários, além do desrespeito com os nossos direitos, como substituição para tratamento de saúde, licença especial e pagamento dos retroativos. Na minha escola, além da falta de funcionários ainda teremos a perda de dois deles.”

Os(as) estudantes ficaram sem aula sim, entretanto tiveram uma aula de cidadania pelas ruas do centro da capital Paranaense.  Cursando o terceiro ano no Colégio Estadual do Paraná, a estudante Ariele Gomes, de 16 anos, juntamente com seus colegas de classe se uniram aos(às) professores(as) nesta manhã porque também querem uma educação pública de qualidade. “Não só os professores precisam lutar, essa luta é em conjunto, com a participação de todos. Eu vejo muito o cansaço dos professores é muito triste. Desmorona a gente ver que é esse tipo de tratamento que os nossos professores recebem”. O estudante Vitor de Oliveira de 16 anos do Colégio Estadual Lacerda Braga desabafa, “a biblioteca no nosso colégio de manhã não funciona mais por falta de funcionários e ainda estamos sem merenda.”

A passeata também parou o trânsito, mas mobilizou não só os trabalhadores da educação, como também a população que se mostrou muito a favor da reivindicação. É o caso do Paulo Roberto de Jesus que trabalha na construção civil e deu uma pausa para deixar a mobilização passar, “estou achando muito bom, porque o povo tem seus direitos e precisam ser respeitados. Isso não tá atrapalhando nada, tem mesmo é que protestar”. O arquiteto Roberto Carlos batia palmas dentro do seu carro, “vocês merecem todo o respeito, o Brasil depende de vocês. E as minhas lágrimas são pra vocês, Deus abençoe essa luta.”

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