Diante do impasse gerado por quem deveria, mas não tem nenhuma ação no sentido de reverter a situação em que se encontram hoje os(as) educadores(as) da rede estadual de ensino, que estão adoecendo cada vez mais, é que damos continuidade ao trabalho iniciado com a pesquisa sobre o “Sofrimento Mental dos Professores(as) da Rede Estadual de Ensino do Paraná”, com o lançamento de um vídeo com depoimentos de professores(as) sobre suas experiências com o adoecimento e sofrimento metal no trabalho, bem como do professor Guilherme Souza Cavalcanti de Albuquerque do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR/NESC). O lançamento será feito nesta quarta-feira (23) às 20 horas no acampamento da greve dos(as) professores(as) da rede estadual do Paraná, em frente ao Palácio Iguaçu.
Em relação às condições precárias de trabalho, os seus efeitos sobre o quadro de saúde e adoecimento dos(as) educadores(as) e do grande número de afastados(as) de suas funções, a APP-Sindicato defende a formação dos(as) trabalhadores(as) para sua própria proteção e desenvolvimento de uma metodologia de monitoramento das condições de trabalho e saúde.
Condições dignas de trabalho e gestão democrática das escolas são elementos fundamentais para que tenhamos saúde para educar os filhos e filhas da classe trabalhadora. É preciso repensar a organização do trabalho escolar e exigir do Estado políticas que assegurem a saúde.
Em estudos sobre condições de trabalho e saúde dos educadores(as), o ambiente de trabalho, conteúdo do trabalho, condições organizacionais, estabilidade no emprego, relações sociais no trabalho, carga de trabalho, autonomia, reconhecimento e valorização profissional, classes superlotadas, baixa remuneração, escassos recursos materiais e didáticos, excesso de carga horária, movimentos repetitivos, presença de poeira de giz, ruído, uso constante da voz, falta de participação nas políticas e planejamento institucionais, acúmulo de responsabilidades transferidas à escola como disciplinar e solucionar problemas sociais dos(as) alunos(as), bem como conflitos ocasionados pela expectativa de pais, trabalho desgastante tanto mental como físico.
São condições de saúde e de trabalho relacionadas diretamente com o aumento de fatores estressores no trabalho, que de maneira cumulativa, estão adoecendo os educadores(as) que passam a apresentar níveis elevados de fadiga, alterações do sono, transtornos depressivos, consumo de medicamentos, problemas osteomusculares.
É necessário urgentemente uma política Estadual de Atenção Integral à Saúde do Trabalhadores(as) da Administração Pública do Estado com programas de prevenção e promoção da saúde, novo modelo e melhores condições de trabalho.
Pesquisa Sobre Saúde Mental – A APP-Sindicato, a convite do professor Guilherme Souza Cavalcanti de Albuquerque, fez uma parceria com o Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (NESC/UFPR).
A pesquisa que teve a coleta de dados iniciada em 2014 via internet, por meio do endereço eletrônico http://www.nesc.ufpr.br/pesquisaprofessores.html, e envolve equipe multidisciplinar de discentes dos cursos de medicina e psicologia, além de docentes de enfermagem e medicina, farão parte desta pesquisa os(as) docentes ativos do Paraná, no sentido de desvelar a gênese dos processos de adoecimento de professores(as) da rede estadual de ensino com sofrimento mental e verificar seu nexo com o trabalho.
Esta pesquisa vem ao encontro a um dos anseios da APP-Sindicato que é entender melhor o quadro de adoecimento da nossa categoria e dar um importante passo no sentido de compreender o sofrimento mental docente, que está intimamente relacionado com a condição de trabalho destes(as) profissionais. Queremos provar cientificamente o nexo-causal (o trabalho como fonte de adoecimento), para propor medidas ao governo de promoção e prevenção da saúde dos(as) nossos(as) educadores(as), como também cobrar direitos trabalhistas que hoje são negados, como uma aposentadoria por invalidez do trabalho.
Embora a incidência de adoecimento dos(as) servidores(as) públicos(as) estaduais seja elevada, as informações referentes a tais casos são de difícil acesso. Isto ocorre, muitas vezes, por não haver notificação, registro e sistematização adequados, ou por serem de difícil acesso devido aos trâmites burocráticos que se interpõem.
A administração pública estadual não comunica adequadamente os adoecimentos relacionados com o trabalho, subnotificando-os e impedindo, dessa forma, o recebimento dos benefícios trabalhistas aos quais os(as) servidores teriam direito.
O Relatório Estatístico de Doenças no período de 2012, elaborado pela Secretaria de Administração e Previdência (Seap), concluiu que a principal causa de patologia no magistério, são os transtornos mentais e comportamentais, com 9.550 casos comprovados.
Dentre os principais problemas mentais e comportamentais relacionados ao trabalho, destacam o estresse pós-traumático e a síndrome de desistência do(a) educador9a) (síndrome de Burnout).
O não estabelecimento do nexo, além disso, oculta a determinação do adoecimento, impedindo que mudanças necessárias para tornar o trabalho um processo predominantemente protetor e não destrutivo da saúde sejam estabelecidas. A produção de informações, por outro lado, permitem identificar os processos geradores de saúde e doença além das possíveis soluções, passos fundamentais para a melhoria da condição de vida e saúde desses trabalhadores.
Tal processo de investigação tem proporcionado momentos de grande crescimento cognitivo pelo contato mais próximo com as condições de vida dos professores, como pela revisão da literatura sobre o tema. A bibliografia disponível é farta em demonstrar que a categoria profissional docente tem adoecido cada vez mais e que o processo de adoecimento precisa ser esclarecido e enfrentado de modo adequado.
A pesquisa tem, ainda, o propósito fundamental de contribuir para a autonomia dos(as) professores(ass) na identificação de suas necessidades de saúde e o consequente fortalecimento da luta pela conquista de condições de vida em geral e de trabalho, em particular, mais saudáveis.
Para tal, além de questionários para a obtenção dos dados, realizaremos oficinas para a elaboração de “matrizes de processos críticos”, instrumentos de identificação autônoma de necessidades de saúde, elaborado por Jaime Breilh, expoente da pesquisa em saúde Coletiva.
Secretaria de Saúde da APP-Sindicato