Divulgado pelo governo federal no último dia 5, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) torna público os resultados obtidos nas avaliações de português e matemática aplicadas em alunos(as) da rede pública e particular de educação em todo o país. Ao longo de setembro, noticiou-se sobre o ‘ranking’ que elencava as melhores e piores escolas ou o crescimento de determinados Estados rumo à média máxima anual.
De acordo com o Ideb, no Paraná, as séries finais do Ensino Médio deixaram a desejar: os valores foram inferiores aos da última prova e menores que o esperado pelo MEC, obtendo a média 3.8, quando a meta era atingir, no mínimo 4.2 (0,2 pontos a mais que na avaliação de 2012). O Paraná não cumpriu sua meta, mas o que isso significa na qualidade do ensino público ofertado por aqui?
Avaliação da APP-Sindicato – A secretária Educacional da APP-Sindicato, professora Walkíria Olegário Mazeto, evidencia que é necessário que os(as) educadores(as) e a comunidade analisem e questionem o formato destas avaliações de desempenho. “Nós somos plenamente favoráveis que haja um processo de verificação da rede, das escolas e dos sistemas de ensino. O problema é que, ao invés, dessas avaliações mostrarem como está a educação para assim definirem-se as prioridades de investimento, elas foram transformadas uma lógica inversa: as escolas hoje passam a se organizar para obter nota na avaliação”, aponta a professora.
Na prática, o debate pedagógico e estrutural, que deveria ser feito para avaliar uma escola que não atingiu uma determinada referência de nota, acaba não acontecendo e o da busca pelo melhor índice acaba atrapalhando a educação.
Sobre a crise educacional que a má aplicação das avaliações pode gerar, a professora Walkíria exemplifica com o contexto local. “A APP vem recebendo denúncias de um programa que este Estado tem, o Programa de Ação Descentralizada (o PAD), em que o responsável por acompanhar a escola com menor índice no Ideb, tem mandado orientações e até forçado os professores para melhorar as notas, facilitar avaliações, ou modificar o método de avaliar do aluno, com o objetivo de que escola não fique com aquela média tão baixa”, contextualiza.
No Paraná, por mais que o MEC tenha fomentado, não há ainda um debate que discuta a situação do Ensino Médio. Isso porque os Estados têm uma autonomia individual, dentro do federalismo, de não acolher uma política nacional. Como, normalmente, os programas educacionais federais vêm atrelados a investimento financeiro, alguns governos acabam acatando os projetos (como o PAD), mas não realizam o devido debate pedagógico para a implementação.
“Em muitos casos, a escola recebe o resultado do seu Ideb ou do seu Saep – que é a prova estadual nos mesmos moldes do Ideb – e ela sozinha tem que resolver o que ela no ano que vem tem que fazer para melhorar os seus índices”, aponta Walkíria.
A participação que queremos – O Ideb no Paraná passa por como a escola está sendo organizada a partir das políticas nacionais. Aqui, não há investimentos em debate que possibilitem avaliar a escola como um conjunto. As notas devem evidenciar as deficiências e os acertos para, a partir daí, fazer as analises sobre as políticas a serem adotadas. “Estamos vivenciando uma crise, as provas chegam na escola muito mais como uma cobrança, quando deveria ser o inverso. Hoje, temos um indicador nas mãos: o nosso Ensino médio não vai bem, e o que vamos fazer a partir disso?”, avalia a professora Walkíria.
Como preocupações da atual diretoria estadual estão a evasão escolar, principalmente no Ensino Médio Noturno, e a falta discussões sobre o coletivo. Também não há, na APP-Sindicato, o mesmo prazer ou a mesma lógica de leitura que a grande imprensa. Evidenciar que a escola A ou a escola B tem os melhores índices do Estado, mostra que, em contrapartida, há o outro extremo com problemas reais e diários a serem sanados.
“Existem escolas que, infelizmente, treinam seus alunos para irem bem nestas provas específicas, com o aval do Estado, que ao alterar a matriz curricular, colocando mais aulas de português e matemática diz claramente ‘eu preciso ter mais aulas para melhorar os meus alunos aqui, porque é aqui que eles serão avaliados’, ai todas as outras disciplinas que trabalham formação e conteúdo, porque todas trabalham, acabaram tendo um problema de redução de carga horário pela lógica que eu preciso ter mais português e matemática porque é ai que meus alunos serão avaliados”, aponta a secretária Educacional da APP.
A APP defende a existência de uma avaliação em que os índices contribuam para a melhoria da educação. Usar provas para o ranqueamento das escolas e para se estabelecer parâmetros para avanço de carreira ou recebimento de investimento, como está previsto e aprovado no PNE, não reflete as reais necessidades da escola.
Vincular a valorização profissional e o repasse de verbas a índices como o Ideb, promove disputas internas de metas a serem cumpridas a qualquer custo para atingir as benesses impostas pelos governantes. Uma lógica, adotada pelo atual governo do Paraná, que não trás melhorias para a educação pública.
Como é calculado o Ideb? O Ministério da Educação e Cultura calcula a relação entre o rendimento escolar (número de aprovados(as), reprovados(as) e as taxas de abandono) e o resultado obtido nas questões da Prova Brasil aplicada para estudantes do 5º e 9º ano do fundamental e do 3º ano do ensino médio. O índice é divulgado de dois em dois anos e tem metas projetadas até 2021, quando a expectativa para os anos iniciais da rede estadual atinjam uma média nacional de, no mínimo, 6,0.
Como é calculado o Ideb? O Ministério da Educação e Cultura calcula a relação entre o rendimento escolar (número de aprovados(as), reprovados(as) e as taxas de abandono) e o resultado obtido nas questões da Prova Brasil aplicada para estudantes do 5º e 9º ano do fundamental e do 3º ano do ensino médio. O índice é divulgado de dois em dois anos e tem metas projetadas até 2021, quando a expectativa para os anos iniciais da rede estadual atinjam uma média nacional de, no mínimo, 6,0.