Por 22 votos contrários e sete a favor, os(as) vereadores(as) da Câmara Municipal de Curitiba rejeitaram, nesta segunda-feira (11), o polêmico projeto que destinava 20% da frota de ônibus da capital para uso exclusivo de mulheres. Conhecida como “Ônibus Rosa”, a proposta era de autoria do vereador Rogério Campos. A APP-Sindicato tinha contrariedade com relação ao projeto, pois ele segregava os(as) usuários(as) ao invés de conscientizar e educar a população. Além disso, em vez de ampliar o número de veículos para contemplar a ideia de “ônibus exclusivos”, ‘destinava’ 20% da frota atual para atender as mulheres. Isto significa que, na prática, a população feminina (ou seja, mais de 50% das usuárias do transporte público de Curitiba) teria a disposição apenas 20% dos ônibus que transitam pela cidade.
A Secretaria de Comunicação da APP conversou, na manhã de hoje (18), com a vereadora de Curitiba, Professora Josete, sobre a participação dos movimentos sociais, como a Marcha Mundial das Mulheres, Marcha das Vadias, a CUT e a União Brasileira de Mulheres (UBM) em contrariedade à proposta. A parlamentar explicou que as entidades representativas da classe trabalhadora e do movimento feminista opuseram-se à ideia de segregação imposta pelo projeto. “Não é desta maneira excludente que vamos resolver o problema. As mulheres precisam ocupar os espaços e serem respeitadas onde quer que estejam. O projeto não garante a igualdade entre homens e mulheres. Queremos ocupar os mesmos espaços e sermos respeitadas, seja no ambiente público ou nos cargos de poder”, reforça a vereadora.
De acordo com a secretária de Gênero, Relações étnico-raciais e Direitos LGBT da APP, professora Elizamara Goulart, a entidade acompanhou a proposta com preocupação, pois além de a educação ser uma categoria formada majoritariamente por mulheres, muitas educadoras e estudantes, que utilizam o transporte público diariamente, seriam afetadas. “E faz parte da nossa luta diária, para além das questões trabalhistas, a tomada de consciência sobre nossos direitos como cidadãs. Não podemos compactuar com propostas que querem tomar ‘atalhos’ para resolver situações crônicas de violência contra a população feminina. Separar o transporte público, limitando as opções das mulheres a apenas parte da frota, não combate, de fato, a violência de gênero”, avalia.
A blogueira Andreza Delgado, militante do Movimento Negro, publicou um texto no qual elencou os motivos para as mulheres não serem favoráveis a propostas desta natureza. Ela questiona se separar as mulheres dos homens, dentro do transporte coletivo, não é culpar as mulheres de terem nascido ou se identificarem com o sexo feminino? Separar as mulheres em ônibus rosa, para evitar que não sofram violência, não é culpá-las pela violência que sofrem? Segundo ela, a proposta de divisão reforça os pensamentos machistas e de dominação que muitos homens pensam ter em relação às mulheres. Por fim, ela também aponta que barrar projetos como estes se mostra uma luta com duplo objetivo: conter o machismo e buscar melhorias no transporte público.