Terra Viva - Exemplo de organização do MST

Terra Viva – Exemplo de organização do MST


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19/09/2007 – Há muito tempo se fala em reforma agrária. Uma idéia que surgiu com o Movimento Sem Terra – MST – e foi construída ao longo dos anos, ganhando novos valores e melhorando a vida de muitas pessoas.
Uma realidade que se tornou possível graças a luta de companheiros que tiveram a coragem de promover ocupações em uma época em que os fazendeiros defendiam suas terras com jagunços e milícias armadas.
Vamos voltar à 1985 nas ocupações da região Oeste de Santa Catarina. Com as conquistas das áreas de assentamento, o movimento começou a discutir formas de produção, afinal, as famílias precisavam ter renda, educação, saúde, moradia digna com energia elétrica, água encanada em todas as casas, estradas recuperadas e com bom acesso para escoamento da produção.
A organização conseguiu atingir o objetivo a partir de 1992, quando o MST começa a discutir formas de produção para os assentados. Até então, o forte era a produção de grãos, principalmente milho e feijão. Algumas famílias estavam aderindo ao cultivo da laranja. A maioria das famílias mantinha uma pequena produção de leite na propriedade, com dificuldades para vender a produção.
E foi assim que surgiu a idéia de incentivar a agroindústria, apostando na produção de leite como forma de agregar valor à produção. Os próprios produtores arregaçaram as mangas e se dispuseram a participar ativamente de todo o processo, retirando os atravessadores que ficavam com grande parte do lucro.
Vários debates foram realizados para discutir os valores cobrados no mercado e o preço baixo pago para o produtor, desproporcional ao preço que chegava aos consumidores através dos supermercados. Outro assunto que interferia na cadeia do leite era a formação de cota e extra-cota, que mantinha o produtor “amarrado”. Era precisa manter um nível de produção o ano todo e caso essa cota não fosse atingida os preços caíam tanto que havia prejuízo.Nas entre safras da produção de leite, o preço era quase insignificante e não cobriam nem os custos de produção.
A sistemática de trabalho foi mudada. A primeira agroindústria foi criada em 1996 no assentamento 26 de Outubro, no município de São Miguel do Oeste, em Santa Catarina. Na época 32 famílias tiveram a iniciativa pioneira de associar-se e eram responsáveis pela produção de 900 litros de leite por mês. Ao longos destes 12 anos, houve uma evolução significativa. Hoje são 280 integrados que mantém uma produção de 300 mil litros de leite por mês.
A agroindústria atualmente industrializa o leite tipo C, de saquinho, também chamado “Barriga Mole”. E também produz dois tipos de queijo (prato e mussarela). A partir dessa experiência, o MST percebeu que era possível abrir novas agroindústrias em outros segmentos.
A CooperUnião foi criada para industrializar frangos. De acordo com as diretrizes do MST, o sistema é auto-suficiente. Os associados participam de todo o processo, desde os grãos transformados em ração para alimentar aos frangos até a serragem usada nos aviários. Também há uma preocupação com o meio ambiente. Orienta-se que cada família plante 1 hectare de área de reflorestamento com mudas de eucalipto, uva japão ou bracatinga. O município de Dionísio Cerqueira é considerado o melhor exemplo de reforma agrária do Brasil.
Neste mesmo período surgiram duas agroindústrias de conservas de pepino e a CooperOeste, uma cooperativa regional com embalagem de leite longa vida. Os produtos da CooperOeste podem ser encontrados nos supermercados de Curitiba e região metropolitana e levam o nome “Terra Viva”. Além de leite longa vida integral e desnatado, há bebidas lácteas dos sabores pêssego, morango e coco, creme de leite e nata.
Os cooperados estão fazendo novos investimentos para lançar outros produtos como achocolatados e creme de leite em embalagem de 300 gramas. A cooperativa também atua no segmento de lojas agropecuárias e recentemente fez um investimento no município de Laranjeiras, no Paraná. Além do posto de resfriamento de leite e da loja de agropecuária, a cooperativa deve colocar em prática um projeto de queijaria para industrializar produtos finos.
As experiências da CooperUnião e da CooperOeste incentivaram a criação da Cootraesc – Cooperativa de Trasportes Autônomos do Extremo Oeste de Santa Catarina – com o objetivo de eliminar os atravessadores e gerar mais uma fonte de renda com o transporte de leite “in natura” da propriedade até a indústria e da indústria até os centros consumidores .
A Cootraesc também transporta equipamentos e materiais usados nas agroindústrias. As embalagens Tetra Pak produzidas por uma empresa em Ponta Grossa, por exemplo, são transportadas dos Campos Gerais até o assentamento. Outro exemplo é o transporte de areia de Curitiba para região.
Na regional também há uma cooperativa de crédito chamada de Crehnor – Cooperativa de Crédito de Pequenos Agricultores e de Reforma Agrária, que desenvolve projetos de habitação rural para construção de moradias no meio rural, tanto para agricultores ligados a reforma agrária, como para agricultores familiares. Nos últimos dois anos foram construídas 3 mil casas em parceria com a Caixa Econômica e Incra, além de outras entidades ligadas a agricultura familiar (sindicatos).
A cooperativa de crédito também influencia diretamente na movimentação financeira das agroindústrias, até então, setor dominado pelos bancos. Tudo isso se tornou possível graças ao treinamento dos assentados e o desenvolvimento de uma nova visão de mercado.
Com dinheiro disponível para investir, os assentados diversificaram as agroindústrias. Há cooperativas de incentivo a produção de melancia e produção de sementes crioulas (sementes de pastagens e de milho). A cooperativa de crédito também incentiva os financiamentos para construção de estábulos, aquisição de animais bovinos leiteiros, aquisição de resfriadores e ordenhadeiras.
A cada dois anos é realizada a Feira da Melancia, juntamente com a Feira da Uva e a Feira da Novilha, para divulgar tudo o que se produz nos assentamentos e pequenas propriedades. As feiras servem ainda para esclarecer à sociedade que é possível fazer a reforma agrária de maneira sustentável e que o homem do campo é quem alimenta a população urbana, se mantendo no meio agrícola quando há condições de manter a família.
Ao longo dos últimos 25 anos foi preciso mudar o eixo, além da terra, foi preciso se manter na terra. Buscar recursos para construir galpões, e equipamentos para produção de culturas. Houve uma mudança no comportamento dos assentamentos – buscaram ampliar a produção. Há programa de incentivo ao reflorestamento,
De acordo com Edemar Luiz Persch, integrante do MST do setor de produção de assistência técnica em áreas de assentamentos, foi preciso mudar o eixo ao longo dos últimos 25 anos, “além de ganhar a terra, foi preciso achar formas de se manter na terra, construir galpões, casas, comprar equipamentos para produção de culturas. Houve uma mudança no comportamento dos assentamentos, que buscaram ampliar a produção. Há programa de incentivo ao reflorestamento”, diz ele.
Edemar viaja pela região, fazendo intercâmbio das experiências em Santa Catarina e levando o conhecimento para o Paraná e outros estados do Brasil e até para o exterior, a exemplo da Via Campesina. “Agradecemos a população do Paraná pela compreensão e consumo dos produtos Terra Viva. Para se ter uma idéia, 80% da marca de leite terra viva, são consumidores pelos paranaenses”, reforça Edemar.
Edemar Luiz Persch atualizou os números da reforma agrária. Segundo ele, no extremo oeste são 14 assentamentos com 546 famílias. Na produção de leite são 3 mil famílias envolvidas, com renda média de 3 salários mínimos. Atualmente a CooperOeste industrializa 340 mil litros dia. Com os novos investimentos, vai passar para 720 mil litros dia.
Em breve, estarão sendo lançados novos produtos com a marca Terra Viva. O site para mais informações é o www.terravivasc.com.br. Telefones para contato (49) 3631 0200/ 91080012. Sugestões por email para [email protected]

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