16/10/2008 – A situação de desvantagem da população negra é flagrante em todos os indicadores – saúde, educação, mercado de trabalho e renda – analisados pelo Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2007-2008, divulgado ontem (15/10).
É no capítulo dedicado à violência que as disparidades são mais assustadoras. Enquanto o número de homicídios se manteve estável entre os brancos, cerca de 15,5 mil, no período de 1999 a 2005, na comunidade negra subiu de 18,8 mil para 27,5 mil – representando, em termos proporcionais, 60,2% do total de assassinatos há três anos.
Entre os jovens, a situação é ainda mais dramática. A taxa de mortalidade por homicídios, em 2005, foi de 134,2 por 100 mil habitantes, no caso dos negros. Entre os brancos, ficou em 66,8, ou seja, menos da metade. ‘Temos índices iraquianos nessa questão da violência que, entre os jovens, assumiu características de uma epidemia’, afirma Marcelo Paixão, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor do relatório apresentado ontem. Ele destaca que são 3,33 homicídios de pessoas negras e pardas por hora no país, contra 2,29 de brancas, índice 3% inferior.
Para Eduardo Pereira Neto, coordenador de políticas públicas do Educafro (uma organização não-governamental que trabalha em defesa dos afrodescendentes), uma forte razão que leva o negro à condição de alvo preferencial da violência é a pobreza. ‘Nas regiões onde a carência econômica, educacional, material é grande, o fenômeno da violência está presente’, afirma Neto.
A pesquisa mostrou, ainda, que a mortalidade de homens negros por armas de fogo foi, em 2005, de 45 por 100 mil habitantes. Entre os brancos, de 24,2. Para Paixão, essa desigualdade deveria ter sido debatida em 2005, antes do referendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munição. ‘Devíamos ter mostrado que, no Brasil, esse tipo de instrumento é usado com mais freqüência contra vidas negras.’
As drogas, que têm relação estreita com a violência, também matam mais negros. De todos os mortos por overdose no país no ano de 2005, 47,6% eram negros ou pardos e 38,4%, brancos. Já o alcoolismo atinge mais os brancos e homens. Na população feminina, porém, as mortes por doenças relacionadas à dependência do álcool são mais comuns entre as negras, cuja razão de mortalidade (por 100 mil habitantes) é 36,9% superior à das brancas.
As condições sociais, o preconceito e a falta de perspectiva, na avaliação de Nelson Inocêncio, do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade de Brasília, empurram o negro para o vício. ‘Quando tudo se torna difícil para você, especialmente com esse mercado de trabalho vinculado a critérios absurdos como aparência, no qual o negro não se encaixa, diante do modelo vigente de beleza, é óbvio que as chances de procurar refúgio nas drogas aumenta’, diz.
Números
Vítimas – 27,5 mil negros foram assassinados no Brasil entre 1999 e 2005, contra 15,5 mil brancos no mesmo período
Fonte: Clipping CNTE