Carta à colunista Ruth Bolognese, por Luiz Carlos Paixão da Rocha

Carta à colunista Ruth Bolognese, por Luiz Carlos Paixão da Rocha


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Cara Ruth,

A fim de ampliar o debate sobre os desafios apontados para a melhoria da qualidade da educação pública paranaense, gostaríamos de tecer algumas considerações em relação ao seu artigo “Os professores, o joio e o trigo”, publicado no dia 18 de março (último domingo) no Jornal Folha de Londrina.

Inicialmente, registramos nosso respeito ao seu trabalho e, ao mesmo tempo, louvamos a sua iniciativa de trazer para a reflexão um tema de extrema importância para o conjunto da sociedade brasileira. A busca pela melhoria da qualidade da educação, sem sombra de dúvida, deve unir a todos: governos, professores, funcionários de escolas, pais, mães, estudantes.

Ao contrário da preocupação externada em seu artigo, a defesa pela educação pública de qualidade tem se configurado como a principal bandeira da APP-Sindicato. Nossas ações, mobilizações e reivindicações têm se pautado nesta direção. Foi assim, por exemplo, que lutamos com toda a energia contra o fechamento dos cursos profissionalizantes e de magistério, contra o cancelamento da oferta do ensino fundamental regular noturno, contra a redução da matriz curricular, contra a ParanáEducação, e contra a diminuição dos recursos para o setor entre outras medidas que visavam o barateamento e a privatização da educação pública durante os anos de auge do ideário neoliberal.

Para além das ações de mobilização, a APP-Sindicato tem se destacado, em nível nacional, pela análise e pela qualidade de suas proposições para a educação. A cada dois anos, nossa entidade realiza a Conferência Estadual de Educação. Estas Conferências, precedidas por 29 conferências regionais (uma em cada núcleo sindical), têm aprovado uma série de políticas e sugestões para o fortalecimento da educação pública paranaense.

Dentre estas políticas destacamoo, a ampliação dos recursos para a educação, a redução do número de alunos por turma (salas superlotadas são um indicativo de pouca qualidade), o investimento na formação continuada dos educadores, a melhoria das condições de trabalho, a necessidade de aprovação de um Plano Estadual de Educação, a realização de concursos públicos, a profissionalização dos funcionários de escolas, além de proposições para a área do currículo e avaliação.

Todas estas proposições visam o fortalecimento da escola pública. Já faz algum tempo que a categoria propõe a criação de contra-turnos nas escolas estaduais para atendimento especial àqueles alunos que enfrentam maior dificuldade de aprendizagem. Portanto, a ampliação do investimento na educação prevista no orçamento deste ano foi recebida pelos educadores com entusiasmo. Mesmo porque, esta tem sido uma das principais reivindicações da categoria no último período.

Há anos temos questionado o fato de o estado do Paraná não aplicar os 25% constitucionais na educação básica. Com toda a certeza, se bem aplicados, os 495 milhões anuais poderão contribuir significativamente para a qualidade da educação pública paranaense. E o sindicato tem todo o interesse de discutir com o governo as prioridades para o investimento.
Porém, também sabemos que um dos componentes fundamentais para a melhoria da qualidade da educação é o investimento nas condições de trabalho e de vida dos educadores. Além da condição de existência, estes necessitam de, no mínimo, ter condições de acesso às novas tecnologias, aos novos conhecimentos e aos bens culturais produzidos pela humanidade. Isto custa. Mas o professor só pode oferecer o que tem.

Em relação à campanha salarial, o que reivindicam os professores? A equiparação salarial com os demais servidores estaduais. Hoje, um professor em início de carreira com ensino superior tem um salário inferior (menos que a metade) aos outros funcionários com a mesma formação e mesma jornada de trabalho. Para corrigir esta distorção seria necessário um reajuste de 56,94%.

Nas rodadas de negociação, temos demonstrado disposição de discutir um cronograma possível e viável para o reajuste até o final do atual mandato do governador, sendo uma primeira parte agora. Os números do Estado demonstram a possibilidade. Desta forma, o governador poderá cumprir a sua proposição de fazer com que os professores do Paraná tenham o melhor salário do Brasil.

Entendemos também que a equiparação salarial deva ser um tema de interesse do conjunto da sociedade. Por que uma profissão tão exaltada pela sua importância social tem um reconhecimento salarial pequeno? Será que é pelo fato da discriminação à força de trabalho feminina? Nossa categoria é composta por 83% de mulheres. Um debate que traz em seu cerne questões e contradições importantes da estrutura social e econômica vigente.

Cara Ruth, com todo respeito às suas considerações, não poderíamos deixar de externar nossa posição em relação à temática exposta por você. Os educadores paranaenses não são uma pedra no caminho. Ao contrário, estão caminhando há 60 anos, com ousadia, utopia e garra, realizando a travessia em direção a uma escola pública de qualidade para a comunidade paranaense. Uma travessia muito difícil, mas muito nobre.

Luiz Carlos Paixão da Rocha
Diretor de Imprensa e Divulgação da APP-Sindicato
[email protected]

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