Neste domingo (30), a educação pública do Paraná faz memória de um acontecimento que marcou para sempre a história do estado. No dia 30 de agosto de 1988, a Praça Nossa Senhora de Salete, na capital, foi o palco da violência do governo de Álvaro Dias. Policiais avançaram com cavalos, cães e bombas contra professores(as) em greve, que protestavam pacificamente por melhores salários e condições de trabalho.
Muitos(as) ficaram feridos, no corpo e na alma, e para o atual presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Silva Leão, se por um lado o 30 de agosto recorda um fato triste, lamentável, por outro mostra a força da união da categoria em defesa da educação pública. Segundo ele, essa mobilização se repetiu no combate às violências praticadas por outros governos e se mantém firme contra os ataques dos dias atuais.
“Há 32 anos, o 30 de agosto é essa data do dia de luto e de luta de educação. O luto porque nós entendemos que é preciso cuidar sempre para que haja um aprendizado com a própria história. É também o dia de luta permanente porque além do governo Álvaro Dias, nós tivemos violências muito marcantes por parte de outros governantes, como Jaime Lerner e Beto Richa, e nós continuamos com governos autoritários que precisamos denunciar”, comentou.
Se a intenção do governo Dias era desmobilizar a categoria, a tentativa não deu certo. Anos após o ataque violento, no ano 2000 os(as) educadores(as) voltaram à luta e realizaram uma das maiores greves da história. Foram 96 dias de paralisação.
Greve de fome
A unidade dos(as) trabalhadores(as) da educação continuou crescendo e 12 anos depois foi a vez do governo Jaime Lerner mostrar a face violenta do Estado ao tentar acabar com a carreira estatutária dos(as) professores(as), nomear os(as) diretores(as) de escola, entre outros ataques. Foram cerca de dois meses de paralisação, inclusive com greve de fome, para combater os planos de Lerner.
Richa: Massacre do Centro Cívico
Depois de Lerner, a categoria reviveu as cenas do 30 de agosto de 1988 no dia 29 de abril de 2015, sob a gestão de Beto Richa. Mais uma vez, na mesma Praça Nossa Senhora de Salete, na capital, a multidão de professores(as) e funcionários(as) de escola foi atacada com bombas de gás, cães, tiros de balas de borracha e um aparato policial sem precedentes.
O episódio ficou conhecido como o “Massacre do Centro Cívico”. Desta vez o número de feridos foi muito maior e as imagens ganharam o mundo. A luta dos(as) educadores(as) naquela ocasião era contra o projeto que mudou o financiamento e a gestão da Paranaprevidência.
Fidelidade canina
Saiu Richa, o povo do Paraná elegeu Ratinho Junior, o que prometeu respeito, diálogo, valorização, o pagamento da data-base e se reunir com os(as) servidores(as) nos primeiros meses de mandato. Desde que sentou na cadeira de governador, só conversa com empresários(as) e a marca de seu relacionamento com o funcionalismo é o mesmo do autoritarismo de seu antecessor, a quem prometeu “fidelidade canina”.
O governador Ratinho nunca se reuniu com os(as) representantes dos(as) servidores(as), se negou a pagar a data-base, demitiu professores PSS de forma ilegal, aprovou lei extinguindo e terceirizando o cargos de funcionários(as) de escola, aumentou a alíquota da contribuição previdenciária dos(as) servidores(as) e passou a cobrar ainda mais de aposentados(as) e tem tentado transformar a rede pública estadual em um laboratório à serviço das empresas privadas interessadas nos recursos da educação.
Em resposta a essas violências do governo Ratinho, os(as) servidores(as) realizaram uma importante greve no ano de 2019 e a APP-Sindicato segue mobilizando os(as) trabalhadores(as) e atuando nas esferas política, administrativa e jurídica, na luta para não perder ainda mais e resgatar o que foi tirado.
Diante deste histórico, e considerando os 73 anos de luta da APP-Sindicato, Hermes acredita recordar o 30 de agosto de 1988 também possui um aspecto pedagógico e que ecoa uma mensagem para a classe política e para os poderes de Estado, de que é preciso respeitar o estado democrático de direito.
Mobilização nas redes
Hermes explica que, devido a pandemia do novo coronavírus, neste ano a data será lembrada em mobilizações pelas redes sociais. “Faremos memória dessa luta, memória inclusive de muitas professoras e professores apoiadores do ato ocorrido há 32 anos e que já não estão entre nós”, acrescentou.
O dirigente destaca que a iniciativa é um convite não apenas para os(as) professores(as) e funcionários(as) de escola, mas também aos jovens e estudantes. “Também entendemos que é uma responsabilidade de toda a juventude fazer essa memória, em nome do reconhecimento histórico e da enorme defesa dos direitos que continuam na ordem do dia”, disse Hermes.