A Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba, ficou lotada na noite desta sexta-feira (30) durante a aula pública organizada pela APP-Sindicato, com o tema Educação pública, democracia e soberania, para fazer memória do massacre do governo Álvaro Dias contra professores(as) no dia 30 de agosto de 1988. As falas aconteceram no palco principal da 18ª Jornada de Agroecologia, que acontece no local. Os professores Valério Arcary e Carlos Abicalil foram os convidados para ministrar a aula.
“O dia 30 de agosto é um dia de luto e luta da escola pública do Paraná. Memória da violência de governos autoritários e que vimos repetida no 29 de abril de 2015. Por isso, trouxemos essas memórias para ilustrar as lutas de hoje, um período e um e contexto histórico muito desafiador para todos nós, em que a reflexão é o papel de cada um de nós neste trabalho de união de povo para que a gente possa defender a escola pública de qualidade, os direitos e lutar por inclusão social”, falou o presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Silva Leão, em sua saudação inicial.
Na sequência, o historiador Valério Arcary citou três ataques do governo Bolsonaro contra a educação: o projeto escola sem partido, os cortes no orçamento das universidades e o plano de militarização das escolas. Segundo ele, o governo quer impor um pensamento único, “como acontecia na ditadura”. “As escolas não precisam se transformar em quartéis. O que as escolas necessitam é de apoio do Estado para que os professores tenham a sua dignidade respeitada, para que não mergulhem na pobreza. O que as escolas precisam é de um ambiente com democracia interna e tolerância para as mais diferentes visões do mundo”, afirmou.
Em seguida foi a vez do mestre em Educação e ex-presidente da CNTE, Carlos Augusto Abicalil. Ele comparou a violência do governo Álvaro Dias com os ataques do governo Bolsonaro contra a educação. “Aos 31 anos daquele 30 de agosto, nós sabemos a dor e a delícia de saber amar e de ter que lutar. Lá atrás, Álvaro Dias errou quando, tentando humilhar a luta dos trabalhadores e trabalhadoras em educação, apostava na humilhação e no fim da resistência. Hoje, Bolsonaro erra ao maltratar as universidades, ameaçar a soberania nacional e querer humilhar o movimento dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade”, disse o professor.
Na plateia, professores(as), funcionários(as) de escola, estudantes, agricultores(as) e demais trabalhadores(as) acompanhavam atentamente as falas que, além de denúncias, também continham esperança. Para Valério, os(as) trabalhadores(as) não vão permitir que o governo Bolsonaro transforme o Brasil em “colônia norte americana”.Já Carlos destacou a capacidade dos trabalhadores(as) organizados(as) derrotarem os(as) opressores(as). “O que a vida pede de nós é coragem. Nós somos a resistência organizada, mobilizada, corajosa, que não teme as contradições de cada tempo. Somos sementeiros do futuro. Vamos encher o Brasil com marchas. A vitória tem lugar e o lugar da vitória é entre nós”, disse.
31 anos de luto e luta pela educação
Neste ano completou 31 anos do acontecimento que marcou a história do Paraná e a luta dos professores(as) e funcionários(as) de escola por melhores condições de trabalho e mais investimentos na educação pública.
Essa data se tornou um símbolo da mobilização em defesa da escola pública de qualidade para todos(as) e contra todas as formas de violência praticadas pelos governos e governantes autoritários.
No dia 30 de agosto de 1988, professores(as) em greve realizavam uma manifestação pacífica no centro de Curitiba. Eles(as) reivindicavam salários dignos e mais investimentos para a educação. Quando chegaram no Centro Cívico, policiais militares avançaram com cavalos, cães e bombas de efeito moral.
O governador, responsável pela atuação do aparato policial, era Álvaro Dias e a violenta repressão deixou vários(as) professores(as) feridos(as). Alguns até foram presos(as) de forma arbitrária. O massacre deixou marcas no corpo e na alma dos(as) professores(as) e manchou de sangue a história do Paraná.
A luta, no entanto, não foi em vão. O desejo de justiça dos(as) educadores(as) transformou a barbárie do governo em unidade da categoria e resistência contra todas as forma de opressão.
Por essa razão, ao recordar o 30 de agosto de 1988 os(as) educadores(as) paranaenses tornam presente a coragem daqueles(as) que lutaram, as conquistas alcançadas e renovam o compromisso por uma sociedade justa e igualitária, que valorize a educação e os direitos sociais.