Uma nação que não reconhece sua história não pode compreender os problemas que assolam a própria população.
Nesta perspectiva, o 13 de maio carrega a importante tarefa de estabelecer uma reflexão acerca da abolição não concluída e suas chagas expostas no Brasil.
“Não temos nada a comemorar, pois até hoje nós, pessoas pretas, sofremos racismo, perseguições e indiferença dentro da nossa sociedade. Foi assinada uma lei onde a população negra saiu com uma mão de cada lado, sem condições necessárias para ser incluída na sociedade”, explica a Secretária de Promoção de Igualdade Racial e Combate ao Racismo, Celina Wotcoski.
O resultado da exclusão não seria outro se não a marginalização da população preta, que se viu empurrada para cortiços e periferias.
Conforme o sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995) apontou em seus estudos, após a abolição as classes dominantes ignoraram a inserção dos ex-escravizados no novo formato de trabalho, abrindo espaço principalmente para imigrantes primeiramente de origem européia, em uma tentativa de embranquecer a população.
Atualmente, como reflexo do passado não superado, a população negra ainda se vê majoritariamente nesses espaços.
Segundo o estudo do Instituto Locomotiva, embora o Brasil tenha 56% da população negra, 78% dos espaços de poder são ocupados por homens brancos.
Se nos espaços de poder, pessoas negras são raras, nos boletins de óbito da polícia, a cor preta é majoritária. O estudo publicado pelo Monitor da Violência, uma parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Núcleo de Estudos da Violência da USP, 81,5% dos mortos pelas polícias são negros no País.
Paraná e a mentalidade colonialista
Sendo um dos 11 estados que não divulgaram os dados sobre a letalidade da polícia frente a população negra, o Paraná carrega um grande histórico de invisibilização da população negra.
Com poucos espaços de lazer valorizando a cultura negra em comparação com praças e datas que louvam a imigração européia, o Paraná preza pelo aspecto europeu da população, mesmo que 34% da população seja negra.
E falando na imigração, é importante destacar o tratamento para com estrangeiros de outras etnias. O Caso de haitianos, congoleses e angolanos que são sumariamente marginalizados e expostos a uma xenofobia explícita por parte da população, algo que não acontece com imigrantes europeus.
“O que a gente vê é uma tentativa do do governo do estado do Paraná de esconder os dados sobre a violência policial que incide mais fortemente sobre a população negra. Isso é uma escolha política desse governo. Então a gente percebe a necessidade de que exista mais transparência nas políticas de segurança e que exista uma incidência de sujeitos que realmente sabem como opera a segurança pública na cidade de Curitiba e no estado do Paraná”, explica a vereadora Carol Dartora.
Além da xenofobia, os ataques contra representantes negros eleitos pela população são explícitos, deixando registrada a marca o racismo que paira na mentalidade paranaense. Exemplos são as ameaças que a vereadora Carol Dartora recebe ao longo do mandato e o processo de cassação de Renato Freiras.
“O caso do Renato demonstra o peso e o tamanho do racismo institucional em Curitiba, o quanto essas instituições promovem a exclusão, a invisibilidade e o silenciamento da população preta e periférica da cidade”, completa Dartora.
A educação é o caminho da mudança
A APP-Sindicato em consonância com o Movimento Negro Unificado entende que a educação é peça fundamental na desconstrução do racismo. A lei 10.639 que visa valorizar a cultura Afro Brasileiras e Africana nas escolas, é uma das ferramentas para atuar nessa frente.
Educadores(as) são a chave para levar para crianças e jovens todo o conhecimento histórico, por isso é importante reconhecer o nosso passado para forjar um futuro de equidade.