Instituto Paranaense de Cegos, 74 anos de história APP-Sindicato

Instituto Paranaense de Cegos, 74 anos de história


Neste próximo dia 1º de fevereiro, o Instituto Paranaense de Cegos (IPC) completa 74 anos de história. Comparativamente, já atingiu a expectativa média de vida dos brasileiros, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Naqueles tempos (1939), quando foi fundado por um grupo de cidadãos e cidadãs preocupados com as condições de abandono, em que viviam as pessoas cegas, nada existia de legislação e políticas públicas, como hoje.

O IPC era o “próprio Estado” em ação. Ele garantia a educação, através da sua escola especial, oferecia oportunidade de trabalho nas suas oficinas artesanais, realizava a assistência social, inclusive enterrando os mortos e pagando pensão aos necessitados, além de acolher como moradores as pessoas cegas, inclusive de outros Estados.

Denominado pejorativamente por algumas pessoas de “casarão” do Batel, em outros tempos, em condições insalubres, ali já chegaram a morar, no mesmo instante, mais de 200 pessoas cegas, incluindo crianças, jovens, adultas e idosas.

Hoje, olhando, retrospectivamente, duas questões são importantes. De um lado, devemos fazer nossas observações com certas reservas sobre o modelo institucional, notadamente assistencialista e segregativo. Por outro, parece também incontestável a necessidade de reconhecimento da contribuição histórica dado por esta instituição, na vida de milhares de pessoas cegas, que dependeram diretamente dos serviços especializados ofertados ao longo desses 74 anos.

Quando se busca compreender a história desta organização social, isso deve ser feito não para criticar as suas ações. A crítica sobre obra feita, muito pouco ou nada contribui na resolução dos problemas, quando a perspectiva em mira é o futuro da entidade.

Por isso, para exprimir o momento histórico que o IPC está atravessando, toma-se emprestado o título de uma obra de Hannah Arendt: “Entre o passado e o futuro”.

É exatamente isso: o IPC encontra-se diante de uma espécie de acerto de contas entre o que foi e o que pretende vir a ser.

Então, se a questão precisa é o futuro, é necessário compreender o atual momento histórico, com as suas novas exigências e desafios, tendo como base onde a organização deve fincar os pilares de sustentação da sua nova edificação.

Nesta perspectiva, nenhuma organização de “olhos” no futuro, conseguirá elaborar e firmar um projeto sem incorporar nas suas formulações teóricas e nas suas ações práticas, os novos princípios do paradigma da sociedade inclusiva.

O que está em discussão para o IPC neste momento crucial, portanto, não são os 74 anos do passado, mas os próximos 74 anos que estão sendo edificados a partir das mudanças estruturais e conceituais implementadas após o início desta intervenção judicial.

Nesta empreitada, o trabalho efetivamente mais árduo, não é a remoção dos obstáculos materiais incompatíveis com o novo projeto e a devida e necessária modernização dos equipamentos. Isso é relativamente simples e já vem sendo feito, com resultados bastante visíveis aos olhos mesmo daqueles menos atentos e menos preocupados com as mudanças.

A dificuldade aumenta, acentuadamente, quando a tarefa exige a mudança de paradigma, ou seja, quando envolve as questões conceituais. Remover uma ou mais ideias fixas, já consolidadas na cabeça das pessoas, é muito mais difícil e complexo do que quebrar uma parede ou algo parecido.

Existem pessoas que mesmo diante da urgente necessidade de operarem mudanças no pensamento e na ação prática, “como pedras imóveis”, vivem presas e dominadas pelos velhos valores do passado.

No momento que o IPC completa 74 anos de vida, ele também enfrenta a constante e permanente contradição que marca a luta pela existência de todas as coisas – de todos os elementos sociais marcantes na história. Enquanto algumas pessoas, por comodismo ou por interesses egoístas individuais, ou ainda por interesses econômicos corporativos, lutam para conservar as coisas como estão, procurando frear os avanços necessários, outras assumem a vanguarda e se colocam na frente do processo das mudanças que precisam ser feitas.

A construção do Novo IPC, efetivamente depende daquelas pessoas que estão agindo no presente com os pés fincados no chão, mas com a cabeça no futuro. Quem vive como prisioneiro do passado não consegue resolver nem mesmo os seus próprios problemas psicológicos individuais, quanto mais enfrentar e contribuir na resolução de problemas de uma organização complexa como é o IPC.

É como diz Marx logo na abertura do 18 Brumário de Luiz Bonaparte: “A tradição de todas as gerações mortas oprime como pesadelo o cérebro dos vivos”. O IPC precisa libertar-se da tradição das suas gerações mortas se pretende retomar a vanguarda que um dia ocupou na história das pessoas cegas.

Mortos enterrados ou pessoas que vivem como mortas porque não conseguem libertar-se dos dogmas culturais da tradição conservadora, não resolvem problemas e nem tampouco fazem história. A história é feita por pessoas vivas com vontade e disposição de enfrentarem e superarem os problemas de hoje, na busca de novas perspectivas.

Essas novas perspectivas estão sintonizadas com processos educacionais realmente democráticos, efetivamente participativos e verdadeiramente transparentes, compatíveis com um modelo de gestão que desloque o foco do individualismo e da competição para o coletivo e a cooperação entre as pessoas.

 

* Ênio Rodrigues da Rosa é professor da rede estadual, mestre em Educação e diretor do Instituto Paranaense de Cegos (IPC).

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